12 livros brincantes para comemorar a infância todos os dias
Escritor e educador, Rubem Alves (1933-2014) certa vez disse que ler é brincar. De fato, nas mãos das crianças, livros podem se tornar diversos objetos e histórias são reinventadas e encenadas de maneira natural e divertida. No mercado editorial, existe a expressão “livro brincante”. Trata-se de uma maneira de classificar obras propositalmente interativas, voltadas justamente ao brincar, que permitem formas de experimentação que vão para além dos botões de “aperte aqui” ou das abas que escondem cenários e personagens.
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“Isso significa uma performance das mais diferentes formas: manuseio do objeto, virada de página, atividade combinatória, intervenção gráfica, performance vocal, entre outras”, explica a especialista em literatura infantil Juliana Pádua S. Medeiros. Por ter um arranjo mais aberto, o livro brincante estimula a ludicidade e a imaginação. “Trata-se de um objeto único, tanto em aspectos materiais como nas experiências leitoras”, complementa.
Juliana assina, ao lado da também professora e pesquisadora Joana Marques Ribeiro, o recém-lançado livro “Mediação de leitura: a literatura em jogo” (Editora Madrepérola). Na obra, elas explicam a ideia de que a literatura é, também, uma brincadeira: “não sabemos ao certo aonde chegar, mas, pela abertura ao jogo lúdico, experimentamos formas de descobrir”, escrevem.
“Sabemos que, na infância, tudo é matéria para experimentar o faz de conta. Um livro com dimensões convencionais pode virar um avião nas mãos de uma criança, que pode ser ser o aviador ou a própria aeronave, pois a imaginação é livre. Então, mesmo que um livro proponha ‘aperte aqui’, o leitor pode alterar a regra e experienciar outros caminhos de significação, dessacralizando e profanando o objeto que tem em mãos, de modo a transformar o brinquedo em brincadeira”, ressalta Joana.
Neste mês de outubro, no qual são comemorados o Dia da Criança, da Leitura e do Livro (os dois primeiros, no dia 12, e o segundo, no dia 29), Juliana e Joana selecionaram 12 livros brincantes para celebrar a infância. Confira as sugestões e, na sequência, as orientações para aproveitar ao máximo os livros brincantes.
Leotolda
Autora e ilustradora: Olga de Dios | Editora: Boitatá
Tuto, Catalina e Kasper estão à procura de Leotolda e, durante essa busca, descobrem como as experiências compartilhadas são fundamentais. E as ilustrações também permitem diferentes narrativas.
Lobo Mau com dor de dente
Autor e ilustrador: Daniel Kondo | Editora Carambaia
Um dos vilões mais temidos da literatura, o Lobo Mau enfrenta um problema inusitado: uma terrível dor de dente. Ele vai precisar pedir ajuda aos demais animais da floresta, que antes o temiam, e também ao leitor, para reverter a situação.
Dobra letras
Autora e ilustradora: Madalena Matoso | Editora: Peirópolis
Autora, ilustradora e designer nascida em Lisboa, Madalena Matoso criou o Planeta Tangerina, premiada editora portuguesa, ao lado de três amigos em 1999. Neste livro, ela explora múltiplas possibilidades de criar e recriar palavras a partir de combinações de quatro letras.
Haicobra
Autor: Fabio Maciel | Ilustrações: Márcio Sno | Edições Barbatana
Haicai, uma estrutura poética japonesa em três versos, é a base deste livro — na verdade, desta cobra que se desenrola ao passar das páginas.
Eustáquio, o mágico magnífico
Autor e ilustrador: Alexandre Rampazo | Editora: Gato Leitor
Repleto de cores vibrantes, o livro traz a história de um mágico que já foi muito famoso por seus truques, mas que precisa recuperar sua confiança.
O carteiro chegou
Autor: Allan Ahlberg | Ilustrações: Janet Ahlberg | Editora: Companhia das Letrinhas
Contado em rimas, o livro acompanha um dia na vida de um carteiro que entrega correspondências para personagens famosos dos contos de fadas. As crianças podem abrir os envelopes e ler as cartas.
Bicharada?
Autora: Edith Chacon | Ilustrações: Bárbara Quintino | Editora Biruta
Neste jogo de adivinhas, as crianças encontram semelhanças entre animais que, embora diferentes, compartilham características.
Eu quero ser
Autores: André Letria e José Jorge Letria | Editora: Caixote
O livro dos autores portugueses homenageia a Convenção dos Direitos das Crianças, da ONU (Organização das Nações Unidas). Com ele, brinca-se de criar personagens e possibilidades poéticas para cada um deles.
Abrapoema
Autora: Juliana Valverde | Ilustrações: Clarice Cajueiro | Editora: Ôzé
Repleto de abas e poemas sonoros, “Abrapalavra” é um livro infantojuvenil que reúne jogos e brincadeiras com palavras.
Quem quer brincar comigo?
Autor: Tino Freitas | Ilustrações: Ivan Zigg | Editora: Abacatte
Uma menina recebe a visita de diferentes animais: patinho Todi, o gato Salgado, o porquinho Rosado, a vaca Pintada e até o lobo Furacão! O livro, desdobrável, é repleto de melodias.
Nunca acontece nada na minha rua
Autora: Ellen Raskin | Editora: Amelì
O livro traz a história de Luís Rodolfo, um garotinho mal humorado, que vai descobrindo uma série de mistérios em sua rua aparentemente pacata. As ilustrações contradizem o que está escrito.
Ônibus
Autora e ilustradora: Marianne Dubuc | Editora: Jujuba
Uma menina de chapéu vermelho e cesta nas mãos está indo visitar sua avó. Com pouco texto, as ilustrações permitem várias interpretações.
No livro “Mediação de leitura: a literatura em jogo”, as autoras apresentam possibilidades de mediação aos professores e demais interessados nos livros brincantes, que podem ter percursos variados, mas que se baseiam em alguns passos principais. Confira as recomendações:
ANTES
- Selecione uma obra literária com potencial brincante, não mero brinquedo em formato de livro.
- Experimente as linguagens que compõem esse objeto livro, mergulhando no universo lúdico (pro)posto na obra de modo a brincar com as possibilidades de sentidos (palavras, imagens, sons, formas, movimentos, texturas, etc.,) e a explorar a própria imaginação criadora nesse processo.
- Crie hipóteses e mapeie caminhos plurais de leitura a partir do livro escolhido, vislumbrando interações possíveis com o leitor durante a mediação que ainda será realizada, (re)conhecendo o público com quem se jogará ludicamente e para o qual serão lançadas “situações de apre(e)ndizagens”. Esta expressão é usada pelas autoras para se referirem aos processos de formação do leitor, em que se apreende e aprende os jogos lúdicos da e na literatura.
- Deixe espaços para os caminhos imprevisíveis que vão surgir a partir do movimento lúdico de interação entre leitor-mediador, livro brincante e leitor-criança, pois se trata de uma construção ficcional colaborativa de significados em permanente expansão.
DURANTE
- Crie um ambiente acolhedor que fomente a vez e a voz da criança para experimentar as possibilidades de leitura.
- Mobilize o repertório do leitor acerca do que o espera na obra literária:
- Explore a própria capa do livro, incluindo o título, como porta de entrada para o universo lúdico.
- Lance perguntas que estimulem a ativação de conhecimentos prévios quanto aos personagens, aos cenários, aos enredos que poderão ser encontrados no interior do livro, promovendo relações com o que já foi lido e vivido.
- Jogue com o próprio livro, a partir dos repertórios mobilizados, valorizando os silêncios, os diálogos, os improvisos, as incertezas… As bonitezas dos sentidos que vão aparecendo ao longo da experiência com as múltiplas linguagens da obra literária.
- Explore como o livro em questão toca o leitor, questiona suas visões de mundo e o convida a imaginar como viveria o que está sendo representado, ou seja, instigue o “poder ser” e o “faz de conta” do jogo lúdico da e na literatura.
DEPOIS
- Desdobre a leitura, continuando o jogo literário a partir de uma apropriação criativa da obra, isto é, (re)criando as possibilidades de sentido, dialogando com outras áreas do saber, oportunizando a elaboração de novos textos literários ou não, performando de diferentes maneiras o que foi lido etc.
- Dê chance à produção criativa do leitor não como um mero artefato, mas sim como um desejo de continuar a brincar nas, pelas e com as linguagens literárias, de maneira que essa experiência lúdica se expanda para além do aqui-e-agora e aguce o olhar para o mundo circundante ao longo da vida, com o frescor poético da infância.