IA auxilia médicos a identificarem violência contra mulher 92 dias antes das ocorrências se agravarem

IA auxilia médicos a identificarem violência contra mulher 92 dias antes das ocorrências se agravarem
Publicado em 21/12/2024 às 17:00

Em Recife (PE), uma tecnologia inovadora foi utilizada recentemente: uma inteligência artificial que lê prontuários médicos e cruza os dados para identificar ocorrências de violência contra a mulher até 92 dias antes dos casos se agravarem. Os resultados dessa iniciativa tecnológica vem de um estudo desenvolvido pela Vital Strategies (uma organização internacional de saúde pública) em parceria com a FrameNet Brasil (o laboratório de linguística computacional da Universidade Federal de Juiz de Fora).

O projeto realizou uma análise detalhada de 13 mil registros médicos, todos provenientes de mulheres vítimas de violência em Recife em um período de dez anos. A tecnologia coloca o sistema médico um passo à frente para prevenir que os casos de violência piorem, uma vez que as vítimas tendem a mudar de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) para outra para que os agentes de saúde não percebam que elas são agredidas. Veja mais informações a seguir.

Para quem tem pressa:

  • A Vital Strategies e FrameNet Brasil atuaram juntas para desenvolver um sistema de inteligência artificial que detecta casos de violência contra a mulher;
  • As ocorrências são identificadas até 92 dias antes de serem agravadas ou resultarem na morte da vítima;
  • A previsão ocorre porque a IA lê os prontuários médicos das UBS e cruza as informações com o Sinan para identificar mulheres vítimas de violência;
  • A tecnologia é um grande passo para estacionar o aumento dos casos de agressão e morte contra a mulher.

Mulheres que se encontram em um ciclo de violência doméstica tendem a procurar ajuda médica sempre que os ferimentos são muito graves. Porém, elas costumam mudar de uma UBS para outra quando os episódios de agressão estão prestes a ficar ainda mais violentos. É isso o que relata o levantamento de dados feito pela Vital Strategies em parceria com a FrameNet Brasil. Essa mudança de hábito ocorre cerca de 92 dias antes de serem gravemente feridas ou assassinadas.

imagem mostra uma mulher chorando dentro de seu quarto
Mulher chorando em seu quarto (Reprodução: Claudia Wolff/Unsplash)

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Para impedir que as estatísticas dos casos de agressão –– e, no cenário mais grave, de homicídios –– continuassem a decolar, o projeto tecnológico associou uma inteligência artificial a uma análise semântica para cruzar informações do Sinan (Sistema de Informações de Agravos de Notificação) com os dados obtidos de prontuários médicos eletrônicos. Este cruzamento de informações utiliza o banco de dados de ambos os sistemas para identificar, de forma precoce, pacientes atendidos nas UBS que demonstram sinais de violência.

Uma vez que uma potencial vítima de violência é encontrada, torna-se mais fácil auxiliá-la de maneira direta e previne que as agressões sofridas piorem ou que resultem na morte dessas mulheres. O estudo informa que conseguiu identificar essas vítimas justamente nos 92 dias que antecedem a piora das agressões e antes que as vítimas resolvam mudar de UBS.

Médico com um tablet na mão e selecionando, no ar, um ícone de documento com uma caneta
Médico utilizando prontuários tecnológicos (Imagem: raker/Shutterstock)

É importante destacar que o Sinan é regulado pelo Ministério da Saúde e pelas demais secretarias estaduais e municipais de saúde. As notificações dos casos de violência contra a mulher são compulsórias, então, o banco de dados da inteligência artificial permanece atualizado.

O sistema com funcionamento via IA se mostra tão promissor que identificou um equívoco em um caso notificado pelo Sinan: uma mulher que anteriormente havia sido declarada como morta devido a um acidente de carro, na verdade, havia sido arremessada de um caminhão pelo seu parceiro. A confusão de informações ocorreu porque o Sinan registrou como acidente o caso que, nos prontuários médicos, era claramente um homicídio.

Dessa forma, se a inteligência artificial conseguiu encontrar esse erro nos registros, espera-se que ela continue a trabalhar para ler os prontuários médicos digitais e prevenir que mais mulheres continuem a sofrer quaisquer tipos de violência –– especialmente porque, segundo os estudos realizados, as mulheres costumam morrer 30 dias depois de uma notificação de violência chegar ao banco de dados do Sinan.

Então, se um possível caso é detectado mais rapidamente nas UBS, que são um dos principais lugares para buscar ajuda médica, os agentes de saúde podem prestar atendimento direto para o caso de violência.