Como uma lagarta mortal pode ajudar a Medicina

Como uma lagarta mortal pode ajudar a Medicina
Publicado em 17/01/2025 às 7:31

Não, o título não está errado. Existem algumas lagartas capazes de ferir gravemente um ser humano. Em casos extremos, esse ferimento pode levar à morte. São pouquíssimas, é verdade – cerca de 2% apenas, segundo especialistas na área. O veneno dessas espécies, porém, é poderoso e se compara à peçonha de alguns tipos de cobras.

E onde a Medicina se encaixa nessa história?, você pode estar se perguntando. A relação entre o veneno de lagartas e avanços na área foi levantada pelo professor Andrew Walker, que é biólogo evolucionista e bioquímico da Universidade de Queensland, na Austrália.

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Walker conduz uma pesquisa sobre o tema e publicou há poucas semanas um artigo científico na revista Annual Review of Entomology.

Sua tese tem como linha de raciocínio o fato de que venenos de outros animais ajudaram a ciência a desenvolver e evoluir medicamentos.

Ele citou o caso de remédios para pressão arterial e anticoagulantes que foram inspirados em venenos de cobra. Também explicou que os medicamentos da moda de semaglutida (como o Ozempic e o Wegovy) foram baseados em uma molécula extraída de um lagarto venenoso: o monstro de Gila.

Elas são bonitas, coloridas e viram borboletas ou mariposas, mas também podem ser extremamente perigosas – Imagem: Roberto Moraes/ Instituto Butantan

E como a lagarta entraria nessa história?

  • Como já dissemos, o veneno de algumas espécies de lagartas se assemelham ao de serpentes.
  • É o caso de taturanas sul-americanas do gênero Lonomia.
  • A substância que elas soltam tem um poder tóxico capaz de interferir na coagulação do sangue.
  • Outras espécies têm venenos que causam problemas inflamatórios crônicos e duradouros, e algumas até já causaram abortos espontâneos em cavalos.
  • Walker ressalta que a maioria dos venenos de lepidópteros (borboletas e mariposas) causa dor, às vezes intensa o suficiente para exigir analgésicos opioides.
  • Isso permite que os pesquisadores usem o veneno como uma espécie de sonda para identificar vias de dor no corpo.
  • Esse processo pode levar a novos medicamentos – ou ao aprimoramento de remédios que já existem.
  • Vale destacar que a pesquisa do australiano é quase inédita.
  • Existe uma extensa bibliografia sobre peçonhas de cobras, aranhas e escorpiões, por exemplo.
  • Mas pouco se sabe sobre as lagartas e taturanas.
  • Segundo o biólogo, estamos diante de um “tesouro” pronto para investigação.

Lagarta mortal sul-americana???

Pois é, você provavelmente não foi a única pessoa a se preocupar com as taturanas mortais sul-americanas… justamente por que vivemos nesse continente. E, sim, o Brasil abriga algumas dessas espécies.

Fiz algumas pesquisas e me surpreendi com o fato de que o Instituto Butantan produz um soro para tratar lesões dos insetos. O laboratório, inclusive, é o único no mundo que faz esse tipo de trabalho.

Imagem: Reprodução/Instituto Butantan

As lagartas mais perigosas são do gênero Lonomia, principalmente aquelas que têm o corpo coberto de “espinhos”. De acordo com o Butantan, elas podem atingir entre 6 e 7 centímetros de comprimento, têm coloração marrom-esverdeada e costumam viver em bandos.

A orientação dos especialistas é que você procure um médico se encostar em alguns desses animais. Os sintomas são dor forte e imediata com sensação de queimação. Depois de algumas horas sem tratamento, os sintomas podem evoluir para mal-estar, vômito, sangramento na gengiva e na urina, além de manchas escuras pelo corpo.

Você pode saber mais acessando o site oficial do Instituto. Fique também com esse vídeo do Butantan que traz um relato da jornalista Sandra Annenberg, que pisou em uma taturana-cachorrinho e precisou de atendimento médico:

As informações são da Knowable Magazine.