Família troca 30 anos de olericultura pelo cultivo de bananas em Mato Grosso
Aos poucos as bananeiras vão ganhando espaço na propriedade do “seo” Vicente José da Silva. No sítio de aproximadamente 14 hectares, localizado na divisa entre Tangará da Serra e Santo Afonso, o investimento na fruticultura é uma nova e promissora aposta. Depois de três décadas sobrevivendo da produção de hortaliças, o agricultor dá os primeiros passos no cultivo de bananas da terra.
A produção de alimentos está no DNA do produtor, que praticamente nasceu no campo. Filho e neto de produtores rurais, ele dedicou boa parte de sua vida à terra.
“[O campo para mim] é tudo. Confesso que hoje se eu sair do campo e ir para a cidade me dá depressão. Eu não consigo”, diz “seo” Vicente ao programa Senar Transforma desta semana.
Ao contrário do pai e do avô que se dedicavam ao cultivo de arroz, feijão e milho, por exemplo, o produtor por 30 anos trabalhou com a olericultura. A produção era dividida entre alface, tomate, tomate cereja, pimentão, couve, pepino, abobrinha, entre outros que eram comercializados na feira.
Virada de chave e a escolha pela banana
O começo da virada de chave da olericultura para a fruticultura, com o cultivo de bananas da terra, teve início há oito meses, aproximadamente. Nos últimos anos, sobreviver apenas da renda da produção de hortaliças e legumes se tornou um desafio no Sítio Mão de Deus.
“O que dificulta a produção são as pragas, os insetos. Então você tem que combater, porque se não, não consegue colher. Aí fica mais caro, pois é investimento”, frisa o produtor.
Outro desafio com a olericultura é a concorrência, que nos últimos anos também cresceu.
Diante de tais situações, a ideia de mudar de foco e plantar bananas da terra veio do filho Thallys Arthur Alves da Silva, companheiro de lida do pai.
Thallys conta ao programa do Canal Rural Mato Grosso que a ideia surgiu através de uma conversa com um amigo que cultivava bananas.
“Ele deu a ideia de nós plantarmos banana também. O cultivo dela é mais fácil do que a horta”, pontua.
Ajuda que fez toda a diferença na produção
Com a ideia bem recebida pelo “seo” Vicente, a família deu início ao novo cultivo e logo de cara contou com um reforço, que de acordo com eles, fez toda a diferença em meio a mudança no sítio: a chegada do Senar Mato Grosso.
A família é atendida pelo técnico de campo do programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) Fruticultura da Instituição, Eduardo Carneiro Teixeira, que há cerca de quatro anos trabalha com bananas da terra.
Quando chegou ao Sítio Mão de Deus, Eduardo revela que tudo ainda estava “bem cru”.
“Eles ainda tinham a olericultura e estavam começando a plantar. Fizemos algumas adequações, mas era tudo muito novo. Não tinham nenhuma cova de banana nascida”.
Com alguns pontos corrigidos, como a seleção das mudas, a opção pela cultivar BRS Terra-Anã da Embrapa, o espaçamento entre as covas, adubação de plantio e manejo fitossanitário, os primeiros resultados do trabalho desenvolvido devem começar a ser colhidos nos próximos dias.
A participação da ATeG Fruticultura garante ao “seo” Vicente três anos de assistência técnica e gerencial. Uma vez por mês o técnico visita a propriedade para orientar o produtor, acompanhar o desenvolvimento do bananal e elaborar estratégias para que o desempenho da atividade seja o melhor possível, com as características do local e objetivos da família.
“Para nós é bom demais, porque nós nunca havíamos mexido com banana. Para nós é algo que não temos conhecimento. Temos uma horta, porque tem 30 anos que eu mexo. Mas, a banana não. Cada cultivo tem um manejo. A gente não tem experiência, daí vamos pegando através dele”, ressalta “seo” Vicente.
Produção escalonada e o futuro na fruticultura
As bananeiras plantadas há oito meses apresentam hoje cachos carregados. Será a primeira colheita no Sítio Mão de Deus, marcando um novo capítulo na história da família.
Ao Senar Transforma, “seo” Vicente comenta que há cachos com 18, 20 quilos. “Está uma produção muito boa. A terra ajuda também. É uma terra muito produtiva. Então nós estamos muito felizes”.
De acordo com Eduardo, a previsão para o início da colheita está entre 30 e 45 dias, dependendo das condições climáticas. Neste primeiro momento a perspectiva é colher de 900 a mil caixas de bananas da terra em meio às 1,5 mil covas prontas para colher.
“[Para uma primeira colheita] é um número expressivo. É um número muito bom, principalmente quando se fala em banana da terra”.
Como o ciclo da banana BRS Terra-Anã é de aproximadamente 12 meses entre o plantio e a colheita, para que o produtor não ficasse sem renda durante este tempo, a estratégia foi incorporar a cultura gradativamente na propriedade. Mantendo, assim, parte da área com o cultivo de hortaliças.
Ao todo, destaca Eduardo, hoje são cerca de três mil covas de bananas plantadas no sítio de forma escalonada.
“A ideia é que quando a banana começar a ter uma renda mensal agradável, ele deixe de lado as olerícolas e trabalhe apenas com a cultura da banana, que exige menos mão de obra comparado com as olerícolas”, salienta o técnico de campo do Senar Mato Grosso.
Toda a transformação, que teve o apoio financeiro do cunhado do “seo” Vicente, o também produtor Antônio Carvalho Perez, que em breve terá o auxílio do sobrinho Thallys para implantar a cultura em sua propriedade, já tem planejamento para 2025 e 2026.
A projeção, relata Thallys, que já prepara novas covas para receber as mudas, é aumentar mais a área com a cultura e chegar a 10, 15 mil pés de bananas da terra.
“Nós estamos confiantes com a orientação do Eduardo. Sem a orientação dele não chegaríamos num resultado desses”.
A meta para 2025, comenta o técnico de campo, é fechar o ano com em torno de seis mil a sete mil covas, totalizando algo próximo de quatro hectares.
“E para 2026 é totalizar a área. Nove hectares de banana BRS Terra-Anã, o que vai dar em torno de 15 mil covas”.
Conforme “seo” Vicente, 800 mudas já foram plantadas nos primeiros dias de 2025 e nos próximos dias mais serão colocadas na terra.
“Nós também queremos aumentar o cultivo do café. Nós só temos uns dois mil pés e eu quero plantar um pouco mais”.
Questionado sobre a olericultura, “seo” Vicente frisa que “a horta vai ficar na história. Uma boa lembrança. [O futuro da produção] se Deus quiser vai ser a banana e o café”.
+Confira programas Senar Transforma em nossa playlist no YouTube
+Confira outras matérias do Senar Transforma
+Confira as pílulas do Senar Transforma
Clique aqui, entre em nossa comunidade no WhatsApp do Canal Rural Mato Grosso e receba notícias em tempo real.