“Luz Cansada” desafia o Big Bang e a expansão do Universo

“Luz Cansada” desafia o Big Bang e a expansão do Universo
Publicado em 04/10/2024 às 18:37

No fim da década de 1920, o astrônomo norte-americano Edwin Hubble propôs a ideia de um Universo em expansão, que desde então tem sido amplamente corroborada por observações científicas. No entanto, a teoria alternativa da Luz Cansada, que sugere um Universo estático, ainda persiste entre alguns estudiosos, apesar de ter sido rejeitada pela maioria da comunidade científica.

Ambas as ideias se baseiam no fato de que galáxias mais distantes exibem uma coloração mais avermelhada do que aquelas mais próximas da Terra – um fenômeno chamado desvio para o vermelho.

Isso ocorre porque, à medida que os objetos cósmicos se afastam, o comprimento de onda da luz aumenta, movendo-se para o espectro vermelho. Segundo a teoria de Hubble, como todas as galáxias estão desviadas para o vermelho, elas estariam se afastando, o que indica um Universo em expansão.

Essa constatação inspirou o físico belga Georges Lemaître a propor a teoria do Big Bang, teoria que sugere que o Universo surgiu há cerca de 13,8 bilhões de anos em uma explosão que deu início à expansão contínua do cosmos.

Teoria diz que luz perde força e cria impressão de afastamento das galáxias

Por outro lado, Fritz Zwicky, astrônomo suíço contemporâneo de Hubble, ofereceu uma visão alternativa. Segundo ele, o desvio para o vermelho poderia ser explicado pela teoria da Luz Cansada, em que os fótons perdem energia ao atravessar vastas distâncias no espaço, resultando em uma luz mais avermelhada. Essa hipótese sugere que o Universo não está se expandindo, mas sim estático, com a luz perdendo força ao viajar, criando a impressão de afastamento das galáxias.

E nessa disputa, quem vence com ampla vantagem é a teoria do Big Bang. A começar pelo fato de que não há evidências que comprovem a perda de energia dos fótons ao longo de sua trajetória. 

A descoberta do fundo cósmico de micro-ondas – radiação remanescente do Big Bang – e as observações de supernovas reforçaram a teoria do Universo em expansão, dando ainda mais credibilidade ao modelo de Hubble. 

No entanto, a teoria da Luz Cansada ainda recebe alguma atenção. Observações recentes feitas pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST) mostraram galáxias primitivas que parecem mais complexas do que o esperado para uma fase próxima ao Big Bang. 

Leia mais:

James Webb pode confirmar que o Universo é estático?

Isso levou alguns cientistas, como o professor associado de ciência da computação da Universidade Estadual do Kansas, Lior Shamir, em um artigo publicado na revista Particles,  a revisitar a ideia de um Universo estático, embora a Luz Cansada ainda apresente muitos pontos questionáveis.

“Em vez de mostrar um Universo primitivo infantil enquanto olhava para os primeiros dias do Universo, as observações do JWST mostraram galáxias grandes e maduras”, argumentou Shamir em um comunicado. “Se o Big Bang aconteceu como os cientistas acreditavam inicialmente, essas galáxias são mais velhas que o próprio Universo”.

Representação artística do Universo em expansão. Crédito: Anshuman Rath – Shutterstock

Shamir utilizou a velocidade constante da rotação da Terra ao redor do centro da Via Láctea para analisar o desvio para o vermelho de galáxias que se movem a diferentes velocidades em relação ao planeta, investigando como essa variação no desvio para o vermelho se relaciona com mudanças na velocidade.

“Os resultados indicaram que galáxias que giram em direção oposta à Via Láctea apresentam menor desvio para o vermelho em comparação com aquelas que giram na mesma direção da Via Láctea”, explicou Shamir. “Essa variação reflete o movimento da Terra enquanto ela gira com a Via Láctea. Além disso, os dados revelaram que a diferença no desvio para o vermelho aumentou com a distância das galáxias em relação à Terra”.

Segundo ele, como a velocidade de rotação da Terra em relação às galáxias permanece constante, a diferença observada pode estar relacionada à distância dessas galáxias. “Isso sugere que o desvio para o vermelho das galáxias varia com a distância, algo previsto por Zwicky em sua teoria da Luz Cansada”.

Apesar das discussões, a teoria do Universo em expansão continua sendo a mais aceita na cosmologia. A explicação para a complexidade dessas galáxias primitivas provavelmente será encontrada sem necessidade de abandonar as teorias vigentes, que são respaldadas por evidências consistentes ao longo das décadas.