Sabe o que é inteligência artificial geral? A “madrinha da IA” não
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Você se pergunta o que é a inteligência artificial geral (IAG)? A OpenAI vem perseguindo-a com força, visando utilizá-la para “beneficiar toda a humanidade”. Para isso, a empresa acabou de obter US$ 6,6 bilhões (R$ 36,01 bilhões, na conversão direta) em investimentos.
Mas, voltando à pergunta: você não sabe bem o que é a IAG? Não se preocupe, pois Fei-Fei Li, pesquisadora de renome mundial e considerada a “madrinha da IA”, afirmou que também não sabe o que é essa tecnologia, durante fala na cúpula de liderança de IA responsável da Credo AI, realizada na última quinta-feira (3).
Entre outros assuntos, a pesquisadora explicou qual foi seu papel na IA que utilizamos atualmente, como devemos nos proteger dos modelos avançados da tecnologia e por que ela entende que sua nova startup, a World Labs, vai mudar tudo. Já quando o tema foi sobre a “singularidade da IA”, Li não soube bem o que responder.
“Venho da IA acadêmica e fui educada nos métodos mais rigorosos e baseados em evidências. Então, realmente, não sei o que todas essas palavras significam. Sinceramente, nem sei o que IAG significa. Como as pessoas dizem que você sabe quando vê, acho que não vi. A verdade é que não gasto muito tempo pensando sobre essas palavras, pois acho que há muitas coisas mais importantes para fazer”, indicou.
Nem a “madrinha da IA” sabe o que é IAG!
- Fei-Fei Li ter dúvidas sobre o que é a IAG é algo que surpreende;
- Isso porque, em 2006, ela deu seus primeiros passos na IA ao criar o ImageNet, primeiro grande conjunto de dados de treinamento e benchmarking de IA do mundo. Ele foi primordial para catalisar o boom atual da tecnologia que vivemos;
- Entre 2017 e 2018, ela foi cientista-chefe de IA/ML no Google Cloud;
- Atualmente, a pesquisadora lidera o Instituto de IA Centrado no Ser Humano de Stanford (HAI, na sigla em inglês);
- Já a World Labs vem construindo “grandes modelos mundiais”, mas ainda não temos certeza do que isso quer dizer.
Em 2023, o CEO da OpenAI, Sam Altman, tentou definir a IAG ao The New Yorker, descrevendo-a como o “equivalente de um humano mediano que você poderia contratar como um colega de trabalho”.
Já o estatuto da empresa entende que a tecnologia é conjunto de “sistemas altamente autônomos que superam os humanos no trabalho economicamente mais valioso”.
Contudo, como são definições básicas, a OpenAI criou os cinco níveis usados internamente para avaliar seu progresso rumo à IAG, segundo a Bloomberg. São eles:
- Primeiro nível: chatbots (como o ChatGPT);
- Segundo nível: racionadores (algo como o OpenAI o1, supostamente);
- Terceiro nível: agentes (o que vem a seguir, possivelmente);
- Quarto nível: inovadores (IA que pode auxiliar a inventar coisas);
- Quinto nível: organizacional (IA capaz de fazer o trabalho de toda uma organização).
Mesmo com essa organização toda, pode continuar sendo complicado entender a definição, algo que também é para Li. Sem contar que tudo isso parecer ser bem mais do que um colega de trabalho humano é capaz de fazer, opina o The Verge.
Mais falas de Li sobre o tema
No começo do evento, realizado em São Francisco (EUA), pertinho da ponte Golden Gate, a pesquisadora afirmou ser fascinada pela ideia de inteligência desde jovem. Com isso, ela começou a estudar sobre IA bem antes de a tecnologia ser lucrativa.
Segundo Li, no início dos anos 2000, ela e outros colegas já estavam lançando as bases para a área, mas de forma bem silenciosa.
Em 2012, meu ImageNet se combinou com AlexNet e GPUs – muitas pessoas chamam isso de nascimento da IA moderna. Foi impulsionado por três ingredientes principais: big data, redes neurais e computação moderna de GPU. E quando esse momento chegou, acho que a vida nunca mais foi a mesma para todo o campo da IA, assim como para o nosso mundo.
Fei-Fei Li, pesquisadora, em fala durante evento da Credo AI
Ao ser perguntada sobre o projeto de lei de IA movido pela Califórnia (denominado SB 1047), que trata da regulação do desenvolvimento e implantação de tecnologias de IA no Estado, ela foi cuidadosa para não repetir uma controvérsia do polêmico projeto, encerrada após o veto do governador do Estado, Gavin Newson, ao projeto, na última semana (entenda quais eram as medidas propostas pelo projeto aqui):
Alguns de vocês devem saber que tenho falado abertamente sobre minhas preocupações com esse projeto de lei [SB 1047], que foi vetado, mas, agora, estou pensando profundamente e com muita empolgação para olhar para frente. Fiquei muito lisonjeada, ou honrada, pelo governador Newsom ter me convidaddo para participar das próximas etapas pós-SB 1047.
Fei-Fei Li, pesquisadora, em fala durante evento da Credo AI
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Newsom escolheu Li, além de outros especialistas em IA, para formar força-tarefa que vai ajudar o Estado a criar proteções para implantação da IA.
Li afirmou que, nessa força-tarefa, está utilizando abordagem baseada em evidências e fará o melhor para defender a pesquisa acadêmica e o financiamento. Contudo, ela deseja garantir que a Califórnia não puna os tecnólogos.
Precisamos olhar para o impacto potencial sobre os humanos e nossas comunidades em vez de colocar o fardo na tecnologia em si. Não faria sentido se penalizássemos um engenheiro de automóveis — digamos, Ford ou GM — se um carro for mal utilizado propositalmente ou não intencionalmente e prejudicar uma pessoa. Apenas penalizar o engenheiro de automóveis não tornará os carros mais seguros.
O que precisamos fazer é continuar a inovar para medidas mais seguras, mas, também, melhorar a estrutura regulatória — sejam cintos de segurança ou limites de velocidade — e o mesmo é verdade para a IA.
Fei-Fei Li, pesquisadora, em fala durante evento da Credo AI
Apesar de a pesquisadora estar trabalhando no aconselhamento do estado dos EUA, não podemos nos esquecer que ela também toca sua startup, localizada em São Francisco. A World Labs é a primeira startup fundada por Li, além de que ela é uma das poucas mulheres comandando um laboratório de IA de ponta.
“Estamos muito longe de um ecossistema de IA muito diverso. Acredito que a inteligência humana diversa levará à inteligência artificial diversa e apenas nos dará uma tecnologia melhor”, opinou.
Nos dois anos que virão, Li se diz animada para trazer a “inteligência espacial” próxima da realidade.
Ela afirma que a linguagem humana, base dos modelos de linguagem grande (LLM, na sigla em inglês) da atualidade, levou, provavelmente, um milhão de anos para se desenvolver, enquanto a percepção e a visão levaram 540 milhões de anos, o que significa que criar grandes modelos de mundo é algo bem mais complexo.
Não é só fazer os computadores verem, mas, realmente, fazer os computadores entenderem todo o mundo 3D, o que eu chamo de inteligência espacial. Não estamos apenas vendo para nomear coisas. Estamos vendo para fazer coisas, para navegar pelo mundo, para interagir uns com os outros, e fechar essa lacuna entre ver e fazer requer conhecimento espacial. Como tecnóloga, estou muito animada com isso.
Fei-Fei Li, pesquisadora, em fala durante evento da Credo AI