A resiliência e o otimismo que guiam as apicultoras de Chapada dos Guimarães
Empreender mesmo sem conhecimento é possível. E é o que três mulheres, pequenas produtoras, em Chapada dos Guimarães fizeram ao arriscar na produção de mel e hoje sonham continuar crescendo na apicultura.
A apicultura entrou na vida dessas três mulheres há três anos. Uma alternativa para melhorar a renda e alimentar a esperança com o futuro. Mesmo sem conhecer tecnicamente a atividade, elas superaram os desafios com o apoio do Senar Mato Grosso.
A ideia de empreender na apicultura, segundo Rosilei Aparecida da Silva, surgiu de uma técnica da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) após uma visita à comunidade, na qual observou que o solo era “fraco”.
Rosilei é uma das três apicultoras que o Senar Transforma conta a história no programa desta segunda-feira (28). Ela que após a ideia de a apicultura surgir por parte da técnica da Empaer, a mesma disse que era preciso buscar o Senar Mato Grosso e formar um grupo de dez pessoas.
“E eu fui em busca da dona Antônia, da Maria e mais outras pessoas e demos início ao curso”.
Muito mais do que mel
Maria Aparecida dos Santos morria de medo de abelhas. Hoje, conforme a cozinheira, “me tornei uma grande amiga delas”. “Para mim foi muito bom. Eu me sinto bem”.
O trio é completado por Antônia Gomes Lima. Ela conta que já tinha conhecimento sobre a vida das abelhas, porém não sabia como cuidar de uma. “Eu achava que elas nos davam apenas mel. Hoje eu sei e valorizo a vida das abelhas”.
O curso do Senar Mato Grosso mostrou para as produtoras, conforme Rosilei, todos os passos desde a captura das abelhas, como cuidar, as práticas de manejo, de doenças, entre outros.
“O curso foi muito importante para nós. O passo seguinte foi capturar as abelhas, saber lidar com elas. A dificuldade de nós três foi a de comprar o macacão, de adquirir o fumigador, de comprar as luvas, porque os custos da apicultura são bem caros”.
As caixas, outra dificuldade devido seu custo, elas e os demais participantes do curso conseguiram através de um ofício encaminhado para a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf-MT).
“No encerramento do curso chegou o caminhão com as caixas. A felicidade nossa era tamanha que no dia mesmo já fizemos o tratamento delas”, lembra Rosilei.
Hoje o Senar Mato Grosso conta com um treinamento focado em apicultura que abrange desde o ensino básico da atividade, ao intermediário e o avançado, de acordo com o supervisor regional, Rodrigo Gonçalves.
Desafios que são um renascer
Com o conhecimento adquirido sobre a atividade em dia e os equipamentos em mãos, as apicultoras de Chapada dos Guimarães deram início à produção e gradativamente os resultados começaram a aparecer.
Todas conseguiram multiplicar o número de enxames de abelhas.
A dona Rosilei chegou a colher 90 quilos de mel em um único ano. A dona Maria 60 quilos e a dona Antônia registrou 40 quilos em uma temporada.
Este ano a expectativa era grande, mas a falta de chuvas prejudicou a florada e, consequentemente, a produtividade das abelhas.
No sítio da dona Antônia o cenário de destruição causado pelo fogo revela que o desafio foi ainda maior. Ela conta ao Sena Transforma que deverá colher entre um e dois quilos de mel apenas, porque prefere deixar a produção como alimento para as próprias abelhas.
“Como queimou tudo, não tem florada, eu preferi deixar o mel para as abelhas para não perder elas. As abelhas não ficam onde não tem florada. Elas iam embora. Então, preferi deixar o mel para elas se alimentarem”.
Questionada se a situação vivida neste ano em seu sítio é suficiente para fazê-la desistir da apicultura, dona Antônia é enfática ao dizer “Nunca!”.
“De jeito nenhum. Eu nunca vou desistir de cuidar de abelhas, porque hoje eu conheço a vida delas. Eu sei como elas são. E as abelhas são como nós. Elas são persistentes, não desistem nunca”.
Associação visa o fortalecimento
A garra que move as três apicultoras a vencerem os desafios, as levaram junto com outros apicultores de Chapada dos Guimarães a formar uma associação em 2023. São cerca de 30 produtores associados hoje.
Rosilei explica que a entidade tem como intuito levar informações aos apicultores, uma vez que, segundo ela, alguns possuem as abelhas, mas não têm conhecimento sobre o manejo.
“Nós tivemos uma colheita no ano passado muito produtiva. O ano retrasado também. Só que os equipamentos são caros. Fizemos um ofício para o prefeito e ele comprou os equipamentos básicos para a construção da Casa do Mel. Cada um poderá ir, fazer um agendamento, fazer a sua decantação, embalar o seu mel e colocar para à venda”.
Rosilei salienta ainda que o “Senar é fundamental para nós, porque através dos cursos recebemos mais conhecimento, mais incentivo para permanecermos nesta cadeia”.
E um dos passos para adquirir tal conhecimento do Senar, tanto para a apicultura como outras cadeias produtivas, é buscar o Sindicato Rural do município e apresentar o interesse, frisa o mobilizador do Sindicato Rural de Chapada dos Guimarães, Alex Humberto Faria Junior.
Conforme as apiculturas, o futuro é visualizado por elas com a produção em franco crescimento. Mas, para isso, diz Rosilei, é preciso mais apoio.
“Uma apoia a outra, mas precisamos que os órgãos olhem mais para nós, porque a cadeia da apicultura está crescendo muito em Chapada dos Guimarães”.
E uma das formas de apoio necessárias é quanto as caixas para as abelhas, consideradas de alto custo.
“O Senar hoje tem alguns cursos que fazem o trabalho com madeira e as caixas são de madeira. Essa demanda eu acredito que a gente vai levar para dentro de casa. Vamos tentar estruturar uma demanda para criar algum plano para que consigamos capacitar essas produtoras a conseguirem construir as próprias caixas”, salienta o supervisor regional do Senar Mato Grosso, Rodrigo Gonçalves.
Outra expectativa do trio quanto ao futuro é a ampliação da flora apícola, para que tenham florada o ano todo.
“Eu vejo a gente mais forte, mais unidas no trabalho e vejo bastante flores. Bonança para as abelhas”, frisa Maria.
Já Antônia diz se ver “reerguendo junto com a natureza, porque sem natureza não vivemos. E essa natureza após essas chuvas já está se reerguendo e daqui uns dias vai crescer tudo de novo. Nós vamos continuar aqui lutando, porque somos fênix”.
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