Com orientação certa, produzir bananas é mais rentável que soja
Quem diria que produzir bananas na terra da soja seria mais rentável do que cultivar o pequeno grão. É o que o produtor Gleder Luiz Teixeira vem fazendo desde 2017 na pequena propriedade que possui em Tangará da Serra. Ele chega a colher cerca de 1,1 mil caixas de banana da terra somente no primeiro ciclo de produção e comercializa o quilo a R$ 5.
O cultivo de bananas da terra na Estância São Francisco ocupa cerca de nove hectares. São aproximadamente 15 mil pés entre germinação e em colheita.
Tudo começou, conta o produtor ao programa Senar Transforma desta semana, com cerca de 50 mudas plantadas em um espaço na propriedade. A ideia de cultivar bananas da terra veio do tio, que já plantava a variedade.
“Eu vi o bananal dele. Só que ele tinha um problema na época da seca. Não tinha água para irrigar. E ele me disse que é a época do ano que mais é valorizada a banana”.
A propriedade foi adquirida por Gleder em 2014. Até a ideia de plantar bananas da terra surgir, ele arrendava parte da área para a produção de soja. Ao ver os resultados daquelas 50 mudas, e o auxílio da irrigação para tal, o produtor decidiu cancelar o arrendamento e focar 100% da área na fruta.
Ao todo a propriedade possui 17 hectares, sendo em torno de dois hectares de reserva.
Todo o trabalho visto hoje na Estância São Francisco foi baseado nos resultados com a fruticultura, que começaram a aparecer quando Gleber passou a receber o apoio do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar Mato Grosso.
É a segunda vez que o produtor recebe apoio do da ATeG Fruticultura. A primeira vez foi em 2019 e hoje o atendimento é especial para ele, pois o técnico de campo do Senar Mato Grosso nada mais é do que o seu filho Eduardo Carneiro Teixeira.
Eduardo atende hoje 30 produtores na ATeg Fruticultura. Todos recebem visitas mensais do profissional, que elabora estratégias condizentes com o perfil e a realidade da propriedade, visando melhorar o desempenho delas.
E na Estância São Francisco as recomendações são seguidas à risca, como a adequação do espaçamento entre as plantas, que atualmente é feito em fileira dupla, manejo de pragas e doenças, irrigação, além do escalonamento do plantio para que o produtor tenha colheita o ano todo.
“Hoje, tanto aqui quanto em outras propriedades que eu atendo, eu venho trabalhando o plantio escalonado, onde você tem talhões de diferentes idades. Eu consigo produzi o ano inteiro. Toda semana eu tenho colheita e você consegue pegar a melhor época de preço e amarrar o comprador a você”, diz Eduardo à reportagem do Canal Rural Mato Grosso.
Testes de variedades de bananas da terra
O técnico de campo do Senar Mato Grosso conta ao programa que quando a produção de bananas da terra iniciou na Estância São Francisco era cultivada a cultivar Farta-Velhaco. Contudo, diante da demanda por uma cultivar que fosse de porte baixo começaram a realizar testes com outros genótipos.
Em 2021, Eduardo teve a oportunidade de conhecer especialistas da Embrapa Fruticultura, através de uma parceria com um pesquisador da Empaer Mato Grosso.
“Fizemos uma parceria de pesquisa para avaliar genótipos de bananas que fossem melhor adequadas para aquela região. Nesse experimento foram avaliados oito genótipos e um destaque foi o genótipo 88, registrado como BRS Terra-Anã, que hoje é a cultivar predominante na nossa propriedade.
De acordo com o técnico do Senar Mato Grosso, a cultivar BRS Terra-Anã teve como pontos positivos a altura de aproximadamente 3,5 metros, resistência às pragas e doenças como a Sigatoka-amarela e mal-do-Panamá. Porém, é suscetível à Sigatoka-Negra.
“Ela é menos apreciada pela broca. Não quer dizer que o moleque-da-bananeira não vai atacar. Ele ataca sim e deve ser feito o monitoramento e controle”.
Outro ponto positivo para a cultivar é ela ser até três vezes mais produtiva que a cultivar Farta-Velhaco.
“Então na mesma área, apenas trocando a cultivar, eu tenho acréscimo na minha produção e basicamente com o mesmo custo”.
Rentabilidade na produção e nas mudas
Do plantio à colheita o tempo é de um ano, explica Eduardo. A partir do primeiro ciclo, mais quatro meses, já é possível colher a muda subsequente.
A produção média em uma população de 1,6 mil plantas por hectare no primeiro ano é em torno de 1,1 mil caixas.
“Eu digo que o atendimento [da ATeG] é o resultado que eu tenho aqui hoje na propriedade. Foi a partir daí que ela alavancou o bananal, porque você tem total assistência, às dúvidas que surgem você troca com os técnicos. Então é tudo muito bem esclarecido. E a gente fazendo o dever de casa dá resultado”, frisa Gleder ao Senar Transforma.
A produção, segundo Gleder, é comercializada em Tangará da Serra e municípios vizinhos como Campo Novo do Parecis, Diamantino, Arenápolis, Nortelândia, Barra do Bugres e outros.
Cada quilo do fruto sai por R$ 5 com o comprador buscando na propriedade. Se o produtor vendesse direto ao consumidor final o preço poderia ser maior, chegando a R$ 7 o quilo. Valores que garantem a viabilidade do negócio.
“Além de ter lucro com a produção do fruto, o produtor pode ver a muda também, porque a busca por essa cultivar está muito grande no Brasil inteiro. Se eu tivesse hoje um viveiro certificado para vender essa muda Brasil afora, a venda de muda daria mais lucro ainda do que a própria produção do fruto”, comenta Eduardo.
O técnico de campo frisa que “para quem tem área pequena, a fruticultura é uma saída. A cultura da banana é excelente, fácil de mexer e que não é tão desgastante fisicamente para o produtor, além de trazer um retorno econômico maravilhoso”.
A ATeG Fruticultura do Senar Mato Grosso atende 519 propriedades hoje no estado. A cultura da banana, pontua a supervisora Juliana Aparecida Dias, inclusive, é a mais demandada pelos produtores.
“A ATeG dá o suporte ao produtor rural que já tem uma fonte de renda, mas que precisa de um profissional para capacitá-lo, para ajudá-lo tanto na parte técnica quanto na gerencial. O caminho para ter o apoio da ATeG é procurar o Sindicato Rural e mostrar interesse”.
E o futuro na Estância São Francisco, conforme o produtor Gleber, é de ampliação.
“Arrendar outras áreas, se possível perto de rios, onde tem água em abundância e energia fácil, também, para a gente poder fazer o plantio e irrigação. A visão é ampliar”, conta ele ao Canal Rural Mato Grosso.
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