Boas conversas fortalecem o aprendizado nos anos iniciais
O desenvolvimento da linguagem nos anos iniciais traz benefícios não apenas a curto prazo, como no aprendizado da leitura. Ele também está ligado a ganhos a longo prazo, principalmente no que se refere ao sucesso da linguagem acadêmica durante os anos finais do ensino fundamental.
💬 Tire suas dúvidas nas comunidades do Porvir no WhatsApp para professores
Em termos de aprendizado dos alunos, nem toda conversa entre estudantes é igualmente eficaz. Contudo, os professores podem intencionalmente estruturar atividades que incentivem conversas de alta qualidade como uma forma de promover a alfabetização e facilitar a criatividade e as habilidades de pensamento crítico.
4 maneiras de trazer boas conversas para a sala de aula:
1. Faça perguntas que incentivem conversas descontextualizadas. O objetivo de fazer perguntas é incentivar o pensamento. Perguntas que levam a respostas de “sim” ou “não” acabam por não incentivar o desenvolvimento do vocabulário ou habilidades de pensamento crítico. Em contrapartida, a “conversa descontextualizada” é uma ótima maneira de desenvolver as habilidades linguísticas e cognitivas dos estudantes. Esse tipo de conversa consiste em diálogos que estão desvinculados do aqui e agora.
Quando um professor pergunta a uma criança o que ela comeu no jantar na noite anterior, está promovendo uma conversa descontextualizada, pois trata de algo que aconteceu no passado. Da mesma forma, ao perguntar aos alunos o que eles pretendem fazer durante o recreio enquanto se preparam para ir ao parquinho, o professor também está utilizando essa técnica. Esses tipos de perguntas naturalmente incentivam o raciocínio e são benéficos para o desenvolvimento da linguagem e a compreensão leitora, pois ajudam os alunos a entender vocabulário e gramática de maneira natural.
2. Parceiros intencionais e conversas estruturadas. Na pré-escola e nas séries iniciais do ensino fundamental, estruturar o tempo de conversa com a formação intencional de pares de alunos é uma maneira de permitir o máximo de oportunidades de comunicação. Os alunos precisam entender e praticar as regras de uma boa comunicação, onde há alternância entre falar e escutar, para que a interação entre os pares seja produtiva e todos possam participar ativamente.
Cartazes de referência para as expectativas de conversa em dupla criam um apoio visual útil para os alunos. Esses cartazes podem ser consultados antecipadamente, ajudando as crianças a lembrar das regras e das expectativas durante essas interações. Selecionar intencionalmente parceiros que permitam o maior número de oportunidades de comunicação é importante. Por exemplo, ao fazer parceria entre dois alunos mais quietos, ambos têm a chance de falar, em vez de colocar um aluno quieto junto a outro que gosta de falar muito. Da mesma forma, ao reunir dois alunos que adoram falar, eles aprendem a alternar entre falar e ouvir.
Estruturar atividades como leitura em voz alta, trabalhos em grupo e reuniões matinais com parceiros intencionais ajuda a garantir que todos os alunos estejam recebendo oportunidades de desenvolvimento da linguagem. Quando os alunos têm a chance de responder a perguntas com um parceiro, isso permite que todos falem, em vez de fazer uma pergunta em que levantam as mãos e apenas um tem a oportunidade de responder. Por exemplo, durante a hora do círculo, ter um parceiro para falar sobre o clima e o outro para falar sobre as roupas que usariam para aquele clima, proporcionando a ambos a chance de se expressar. Fazer diariamente perguntas do tipo “O que você prefere?” permite que os alunos reflitam sobre suas preferências e depois as expliquem ao parceiro. Aqui estão algumas sugestões de perguntas:
- Você prefere andar de ônibus ou em um caminhão de bombeiros?
- Você prefere fazer um quebra-cabeça ou brincar com blocos de montar?
- Você prefere um picolé ou um sorvete?
- Você prefere andar de bicicleta ou de patinete?
- Você prefere ter um dinossauro de estimação ou um unicórnio de estimação?
- Você prefere comer batatas fritas ou pizza?
Relacionadas
Ensino fundamental: por que os avanços dos anos iniciais não se repetem nos anos finais?
Educação infantil é crucial para desenvolvimento a longo prazo, diz vencedora do Nobel
Qual o papel da educação socioemocional nos anos iniciais do ensino fundamental?
3. Leituras em voz alta com perguntas intencionais. Outra maneira de ampliar a conversa entre os alunos é incorporando leituras em voz alta com perguntas intencionais. Esta é uma ótima maneira de fazer os alunos pensarem sobre a literatura e a se comunicarem entre si. Ao criar antecipadamente perguntas relacionadas ao vocabulário da história, bem como perguntas que estimulem conversas descontextualizadas, o professor promove estrategicamente o pensamento crítico.
Além disso, perguntas abertas são uma ótima maneira de os alunos serem criativos em seu pensamento sobre o texto. Aqui estão exemplos de perguntas que funcionam para várias histórias e incentivam o pensamento crítico e criativo:
- Me conte mais sobre…
- O que você acha que vai acontecer a seguir?
- Você gostaria de ser amigo de algum personagem do livro? Por quê?
- O que aconteceria se…
- O que você notou sobre…
4. Criatividade e linguagem natural. Reservar um período para que os alunos coloquem em prática a curiosidade e a criatividade permite inúmeras oportunidades naturais para o desenvolvimento da linguagem. Caixas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e caixas de arte são uma maneira de fazer isso. Essas caixas, que têm o tamanho de uma caixa de sapato, contêm materiais manipuláveis com os quais os alunos podem criar e experimentar. Muitos dos itens presentes nessas caixas já estão disponíveis na sala de aula. Alguns objetos para incluir nas caixas de STEM são blocos coloridos, Legos, massinha de modelar, palitos de picolé, cubos e cartas de baralho. Materiais de arte como marcadores, lápis de cor, tesouras, bastões de cola, canudos, papel, furador e massinha podem ser usados para criar diferentes projetos.
Durante o processo de criação, é importante que os alunos tenham tempo para falar sobre o que estão fazendo. Perguntas como “Como esse objeto pode ser usado?” ou “De onde você tirou essa ideia?” ajudam a expandir o pensamento e o desenvolvimento da linguagem. Um aluno pode criar estradas e pontes com cubos, enquanto outro aluno molda dinossauros com massinha. Deixar os alunos contarem uns aos outros sobre suas magníficas criações celebra seu aprendizado e promove o desenvolvimento da linguagem.
Estruturar intencionalmente oportunidades de fala na sala de aula permite que os professores facilitem o desenvolvimento da linguagem e estabeleçam uma base sólida para a alfabetização.
* Conteúdo publicado originalmente em Edutopia e traduzido mediante autorização
© Edutopia.org; George Lucas Educational Foundation