Boas práticas para gestão escolar nas redes sociais e no WhatsApp
Desde o advento das redes sociais, a comunicação entre a escola, as famílias e a comunidade ganhou novas camadas de complexidade. As conversas entre mães à porta da escola migraram para grupos muito mais amplos no WhatsApp. Os recados saíram das agendas de papel para e-mails e aplicativos; e os anúncios oficiais, antes feitos em cartazes na porta da instituição, agora estão em redes como Facebook e Instagram. No entanto, não se trata de uma simples transposição, pois as mídias digitais possuem características próprias que exigem mais transparência, agilidade e interação.
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Um dos pontos de atenção – e de tensão – é que as fronteiras entre vida pessoal e profissional se diluíram. Cada professor e trabalhador da escola tem sua rede pessoal, mas também representa a instituição.
“Há mais de 15 anos, quando o Facebook começou a se popularizar, enfrentei o caso de um professor de educação infantil que publicou uma foto que os pais não gostaram. Esse é um tema que ainda não foi superado. Recentemente, uma professora publicou uma dancinha no TikTok que algumas famílias consideraram inadequada, levando-os a procurar a direção para pedir que ela fosse desligada”, conta Luciana Palhete, consultora e presidente-executiva da Bureau Vanguarda Empresarial, que assessora escolas em todo o país.
Não há uma resposta pronta para esse tipo de crise, mas, quando algo assim ocorre, é necessário um diálogo transparente com toda a comunidade escolar. Para evitar esse tipo de situação, as instituições podem criar diretrizes para o uso das redes sociais por seus profissionais. “Algumas escolas já possuem um manual de ética para professores, que reflete sua missão e valores, e todos precisam assiná-lo no momento da contratação”, explica Luciana, que trabalha com marketing e relacionamento em grandes redes de ensino desde o ano 2000.
Outra medida recomendada pela consultora para evitar esses casos é oferecer treinamento aos profissionais e orientações às famílias, por meio de palestras e oficinas, sobre o uso das redes sociais, privacidade e “etiqueta” na internet. Incluir os pais nas discussões e nos aprendizados traz benefícios para todos, garante Luciana. “As escolas produzem muito e guardam dentro de seus muros. Mas as famílias querem se sentir pertencentes à escola; quando são incluídas, também se sentem acolhidas – e atribuem muito valor a essa relação”, afirma.
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Rapidez e organização
Além da transparência, a comunicação nas escolas hoje exige rapidez. “Um professor diz às 11h em sala de aula que, na semana seguinte, haverá um estudo do meio e, posteriormente, enviará o aviso aos pais. Mas, assim que a aula termina, algum aluno já avisa os pais, que vão ao grupo do WhatsApp perguntar quem está sabendo”, diz Alcino Ricoy Junior, presidente-executivo da Eego Digital. Algo tão simples pode abrir uma crise e dar a impressão de que a escola é “bagunçada”, segundo o professor.
Dessa forma, a comunicação deve ser abrangente entre a equipe escolar, com todos bem-informados sobre projetos e atividades. E, sim, as escolas ganham em agilidade ao criar grupos de WhatsApp com os pais. “É a plataforma mais rápida e onde os pais estão – muito mais do que no próprio app da escola. Ao formar grupos, a escola deve deixar claro que aquele é o canal de informação oficial e definir as regras para a interação”, explica Alcino. Uma das regras importantes é determinar o horário em que as mensagens serão respondidas, para evitar cobranças até de madrugada.
As várias redes sociais podem trazer vantagens às instituições de ensino. Facebook e Instagram são os canais mais comuns de divulgação, mas os especialistas sugerem também explorar o TikTok para vídeos curtos voltados aos adolescentes, com dicas para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por exemplo, e o YouTube para vídeos mais longos, seja para divulgar eventos escolares feitos pelos alunos ou para disponibilizar palestras e workshops promovidos para os pais. Até um perfil no LinkedIn, uma rede vista como séria e profissional, pode ajudar a aumentar a credibilidade da instituição.
Espaços de troca
Em todas elas, a interação é um ponto-chave da comunicação escolar: quem está nas redes sociais não quer apenas receber informações, mas sim “trocar” com os demais. “Um erro comum das escolas é ignorar comentários – elas fazem a postagem e não voltam para responder depois, não esclarecem uma dúvida que alguém teve. Se a escola tem uma rede, precisa de alguém para gerenciá-la, para interagir com todos praticamente em tempo real. Às vezes, um comentário negativo, se não rapidamente respondido, pode virar a rede social contra a escola”, alerta Sandhra Cabral, presidente-executiva do Educar para Ser Grande e formadora de professores e gestores escolares.
Também é importante não exagerar na quantidade de postagens. “Não podemos saturar as redes de informações a ponto de os pais perderem o interesse pelo que publicamos”, afirma Sandhra. Além de anúncios oficiais, como datas de matrícula, ela recomenda que sejam postadas atividades interdisciplinares que reforcem o projeto pedagógico da escola, eventos culturais, mostras de ciências e projetos de empreendedorismo. “O responsável pelas publicações deve entender bem o projeto pedagógico e alinhar todas as comunicações com a missão da escola e com os objetivos educacionais”, recomenda a consultora.
Todo esse trabalho de comunicação não diz respeito apenas a evitar crises ou a aumentar matrículas, mas também pode impactar positivamente o processo de ensino-aprendizagem. “O objetivo da gestão da comunicação escolar deve ser assegurar que a comunicação seja clara, consistente e adequada para todos os públicos. Dessa forma, ela contribui para a construção de um ambiente escolar seguro e para uma cultura de paz”, explica Sandhra.
Mais do que apenas informadas, as famílias acabam “engajadas” na educação dos filhos. “Há pesquisas comprovando que, quando os pais se interessam pelos processos da escola, os filhos apresentam uma melhor resposta no processo de aprendizagem”, afirma a consultora. De acordo com o levantamento “Educação na Perspectiva dos Estudantes e seus Familiares”, do Itaú Social, 68% dos estudantes da alfabetização conversam todos os dias com os responsáveis sobre assuntos da escola, enquanto nos anos finais e ensino médio essa proporção é de 58% e 50%, respectivamente.
Portanto, a comunicação escolar não pode ser vista como uma tarefa extra para o gestor escolar; afinal, ela é uma das formas de atingir os objetivos educacionais das instituições de ensino.
5 dicas para uma boa estratégia de comunicação entre escolas e famílias:
- Estabeleça diretrizes claras para o uso das redes sociais por profissionais da escola, garantindo alinhamento com a missão e valores da instituição.
- Ofereça treinamento e palestras para educadores e famílias sobre o uso adequado das redes sociais e etiqueta na internet, fortalecendo o vínculo com a comunidade.
- Mantenha a comunicação ágil e transparente, utilizando plataformas como WhatsApp e definindo regras de interação e horários de resposta.
- Explore as plataformas de redes sociais estrategicamente, interagindo com os usuários para evitar crises e adaptando o conteúdo ao público-alvo.
- Alinhe as postagens com a missão e os objetivos educacionais da escola, priorizando conteúdo que reforce o projeto pedagógico sem sobrecarregar as redes com informações excessivas.