Quais são as serpentes mais peçonhentas do Brasil e onde elas vivem?

Quais são as serpentes mais peçonhentas do Brasil e onde elas vivem?
Publicado em 08/12/2024 às 21:52

As serpentes são répteis que formam um grupo com mais de 4000 espécies espalhadas globalmente! São animais com corpo alongado e sem membros, e cerca de ¼ das espécies são peçonhentas, ou seja, são animais que possuem estruturas especializadas, como presas, para injetar o veneno ativamente na vítima.

Animais venenosos diferem dos peçonhentos: enquanto os venenosos apresentam substâncias tóxicas ao serem ingeridos ou manuseados (como algumas espécies de sapos), os peçonhentos são capazes de injetar o veneno diretamente por meio de ferrões, presas ou outros mecanismos especializados (como cobras, escorpiões e aranhas).

O Brasil abriga uma vasta diversidade de serpentes, incluindo espécies peçonhentas e não peçonhentas. Dentre as serpentes perigosas brasileiras, destacam-se quatro: as corais, jararacas, surucucus e cascavéis!

Outro método, mais complexo, para identificar serpentes peçonhentas é pela análise da dentição, que se divide em quatro tipos. Imagem: Maria Dryfhout / Shutterstock

Cada uma dessas serpentes possui características biológicas e ecológicas distintas, bem como venenos com composições químicas específicas que influenciam diretamente sua periculosidade e o tipo de tratamento necessário em incidentes com humanos.

Os principais grupos de serpentes incluem: Pythonidae, que abrange as pítons; Boidae, onde estão as jiboias; Viperidae, que inclui as víboras; Elapidae, que reúne as najas, corais-verdadeiras, serpentes marinhas e mamba-negra; e, por fim, Colubridae, a maior família, que engloba as corais-falsas, as quais não são peçonhentas.

Quais são as maneiras de identificação das serpentes peçonhentas?

Algumas características permitem diferenciar espécies desses grupos de serpentes. Uma das principais é a presença de fossetas labiais ou fossetas loreais, estruturas sensoriais que detectam variações de temperatura. As fossetas labiais são vários orifícios ao longo dos lábios, enquanto as loreais aparecem isoladas, uma de cada lado da cabeça, entre o olho e a narina.

Esses órgãos estão presentes apenas em serpentes peçonhentas, embora nem todas as espécies peçonhentas os possuam. Assim, quando uma serpente possui um orifício entre o olho e a narina em ambos os lados da cabeça, como as jararacas, cascavéis e surucucus, há uma indicação de peçonha. Entretanto, essa característica não é exclusiva; por exemplo, as corais-verdadeiras não possuem fossetas loreais.

Jibóia com dentição áglifa
Jibóia com dentição áglifa (Imagem: Ryan M. Bolton/Shutterstock)

Outro método, mais complexo, para identificar serpentes peçonhentas é pela análise da dentição, que se divide em quatro tipos:

  • Áglifa: com dentes de tamanho e formato semelhantes, como nas jiboias;
  • Opistóglifa: com uma presa maior que os demais dentes para inoculação de veneno posicionada na parte posterior da boca, como ocorre nas corais-verdadeiras;
  • Proteróglifa: em que a presa maior está localizada na parte anterior da boca;
  • Solenóglifa: um tipo bem característico de serpentes peçonhentas, com um par de presas grandes e retráteis, únicas no maxilar, como nas jararacas.

Quais são as serpentes mais peçonhentas do Brasil?

Jararacas

As jararacas (gênero Bothrops) habitam áreas de florestas, campos e até áreas urbanas de quase todo o Brasil, com maior concentração no Sudeste e Sul. Têm coloração que varia do verde-oliva ao marrom, com manchas em zigue-zague pelo corpo.

Seu veneno possui ação proteolítica e coagulante, causando necrose, hemorragias e inchaços intensos nos locais de picada. A potência do veneno é alta, sendo o responsável pela maioria dos acidentes ofídicos no país, em especial pela proximidade das jararacas com áreas habitadas e seu temperamento mais “estressado”.

Jararaca com dentição solenóglifa
Jararaca com dentição solenóglifa (Imagem: Rafael Martos Martins/Shutterstock)

Surucucus

Conhecida também como pico-de-jaca, a surucucu (Lachesis muta) é a maior serpente venenosa das Américas, podendo atingir mais de 3 metros de comprimento. Habita regiões de floresta tropical, especialmente na Amazônia e na Mata Atlântica, e seu status é de vulnerável até risco de extinção, dependendo do estado. Tem um corpo robusto com escamas ásperas e padrão de coloração em forma de losangos pretos e marrons.

Seu veneno tem ação neurotóxica e hemorrágica, provocando sintomas como dor, inchaço e necrose, além de efeitos sistêmicos menos intensos que outras serpentes, mas ainda perigosos devido ao tamanho da serpente.

Surucucu com fosseta loreal visível.
Surucucu com fosseta loreal visível (Imagem: reptiles4all/Shutterstock)

Pelo fato de esses animais preferirem ambientes mais úmidos e isolados, os acidentes são mais raros, mas quando ocorrem podem ser graves e em áreas remotas, dificultando o acesso a tratamento.

Cascavéis

As cascavéis (gênero Crotalus) são encontradas principalmente em áreas secas, como o Cerrado e a Caatinga, mas também em regiões de campo e floresta. São reconhecíveis pelo chocalho na cauda e pela coloração marrom-amarelada com padrões em losango.

Cascavél
Cascavel (Imagem: Clint H/Shutterstock)

Seu veneno é um dos menos potentes entre as serpentes brasileiras aqui citadas, no entanto, continua sendo extremamente perigoso, possuindo ação neurotóxica e miotóxica, causando paralisia muscular e insuficiência respiratória, além de efeitos coagulantes. Acidentes com cascavéis, embora menos comuns que com jararacas, tendem a ser graves devido aos sintomas neurológicos.

Coral-verdadeira

As corais-verdadeiras (gênero Micrurus) habitam áreas de floresta, campos e áreas de transição, como o Cerrado, em várias partes do Brasil. Têm um padrão de coloração característico, com anéis vermelhos, pretos e brancos ou amarelos, no entanto, esse padrão varia muito e são frequentemente confundidas com corais-falsas, que não apresentam perigo.

Cobra coral-verdadeira
Coral-verdadeira (Imagem: Ryan M. Bolton/Shutterstock)

Seu veneno é o mais potente entres as serpentes citadas, no entanto, seu comportamento recluso e mais “assustado” reduz a frequência de acidentes, geralmente ocorrendo quando as serpentes são manipuladas diretamente.

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O que é o soro antiofídico para picada de serpentes?

O soro antiofídico é utilizado no tratamento de picadas de serpentes venenosas. É produzido a partir da coleta de veneno de serpentes, injetado em pequenas doses em animais de grande porte, geralmente cavalos, para desenvolverem agentes de defesa contra o veneno.

Após um período de imunização, o sangue dos animais é coletado, e os anticorpos são extraídos e purificados para compor o soro. Cada tipo de soro é específico para as proteínas e toxinas dos venenos de determinadas espécies, o que significa haver diferentes soros para diferentes serpentes.

soro antiofídico
O Instituto Butantan, localizado em São Paulo, é uma das principais instituições responsáveis pela produção de soros antiofídicos no Brasil. Imagem: chemical industry / Shutterstock

Para as principais serpentes peçonhentas do Brasil, existem soros específicos: o soro para picadas de jararaca e cascavel é conhecido como soro antibotrópico (pentavalente) e anticrotálico. Já o soro para a coral-verdadeira é distinto, sendo denominado soro antielapídico, devido à composição diferente do veneno dessa serpente. E por fim, para as surucucus, há o antibotrópico-laquético.

O Instituto Butantan, localizado em São Paulo, é uma das principais instituições responsáveis pela produção de soros antiofídicos no Brasil. Além de produzir e distribuir os soros para hospitais públicos e privados, o Butantan também realiza pesquisas e desenvolve novas tecnologias para o tratamento de acidentes ofídicos, contribuindo significativamente para a saúde pública no país. O instituto também tem um site onde é possível encontrar diversas informações essenciais para entender mais sobre o assunto!

O que você deve fazer se for picado por uma cobra?

Em caso de picada, é essencial manter a calma e buscar atendimento médico imediatamente. Para facilitar a identificação da espécie e o tratamento adequado, recomenda-se anotar características visíveis da serpente, como coloração e padrões, ou tirar uma foto – além de evitar manuseios e tentativas de captura.

O diagnóstico preciso é fundamental para a administração do soro antiofídico correto, aumentando as chances de recuperação e diminuindo os riscos de complicações.