riscos maiores à Terra podem ainda estar por vir
Conforme noticiado pelo Olhar Digital, a NASA oficializou recentemente a chegada do máximo solar – o pico do ciclo de 11 anos de atividade do Sol.
Cientistas alertam que, após essa fase, vem a chamada “zona de batalha”, uma etapa do ciclo solar ainda pouco compreendida, mas que pode ter um impacto muito mais significativo do que o próprio máximo solar.
Esse estágio pode ser especialmente prejudicial para os satélites em órbita da Terra, que se multiplicaram exponencialmente desde o último ciclo solar, devido ao crescente número de lançamentos – com destaque para os da megaconstelação Starlink, serviço de internet da SpaceX.
Sobre o máximo solar:
- O máximo solar ocorre quando o número de manchas solares, pontos escuros visíveis na superfície do Sol, atinge o ápice;
- Durante esse período, poderosas explosões na estrela, conhecidas como erupções solares, liberam enormes quantidades de energia, lançando partículas carregadas ao espaço;
- Essas partículas podem viajar em direção à Terra;
- Se atingem o planeta, elas desencadeiam tempestades geomagnéticas, que são responsáveis pelas auroras boreais (ao norte) e austrais (ao sul).
O que acontece depois do máximo solar
Quando o máximo solar chega ao fim, o campo magnético do Sol muda, e o ciclo solar entra em uma fase de diminuição da atividade até atingir o “mínimo solar”. Nesse ponto, a atividade solar reduz drasticamente até que um novo ciclo comece. No entanto, antes de chegarmos ao mínimo, há uma fase intermediária conhecida como zona de batalha, que pode ser muito mais intensa.
Recentemente, a Lynker Space, especializada em previsões e soluções para o clima espacial, alertou para o início dessa fase, que deve ocorrer entre 2025 e 2026. No comunicado, Scott McIntosh, físico solar e vice-presidente da empresa, explicou que a atividade geomagnética na atmosfera superior pode aumentar até 50% durante a zona de batalha, que pode durar até 2028. Isso significa que o potencial para grandes tempestades geomagnéticas nos próximos anos é muito real.
A fase de zona de batalha é caracterizada por uma competição entre as bandas magnéticas do ciclo Hale, um ciclo solar mais longo de 22 anos. Esse ciclo mais extenso envolve grandes faixas de magnetismo que surgem nos polos do Sol e migraram em direção ao equador ao longo do tempo. Essas faixas, chamadas de bandas do ciclo Hale, têm um impacto direto na quantidade de manchas solares e na atividade solar.
Durante a primeira metade de um ciclo solar, quando o número de manchas solares está aumentando, apenas uma faixa do ciclo Hale está presente em cada hemisfério do Sol. Isso cria um desequilíbrio magnético, com campos magnéticos mais fracos perto do equador, permitindo que mais manchas solares se formem na região central do Sol.
Quando uma segunda faixa do ciclo Hale se forma, ela reduz esse desequilíbrio, tornando mais difícil a formação de manchas solares. À medida que as faixas se aproximam do equador do Sol, a atividade solar diminui, e o número de manchas solares também diminui.
No entanto, durante a zona de batalha, quando duas faixas do ciclo Hale competem em cada hemisfério do Sol, a atividade solar pode se intensificar, gerando mais erupções solares e buracos coronais.
Rajadas de vento solar podem derrubar satélites
Buracos coronais são áreas escuras na coroa solar, a camada externa do Sol, onde o campo magnético é mais fraco. Esses buracos podem liberar rajadas de vento solar muito mais fortes e rápidas. Em 2023, um buraco coronal maior que 60 vezes o tamanho da Terra lançou uma rajada de partículas solares em direção ao planeta.
Durante a zona de batalha, o número de buracos coronais tende a aumentar, intensificando o impacto das tempestades solares. Esse aumento na atividade solar pode ser preocupante para a infraestrutura espacial.
Ao liberar partículas carregadas, o Sol pode interferir no funcionamento dos satélites e de outras tecnologias que dependem da órbita baixa da Terra, como sistemas de navegação e comunicação. O impacto dessas tempestades solares é amplificado pela expansão da atmosfera superior, que pode aumentar a resistência que espaçonaves em órbita enfrentam.
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Esse “arrasto atmosférico” pode fazer com que satélites percam altitude e retornem à Terra mais rapidamente do que o esperado. Isso já ocorreu em ciclos solares anteriores e é uma preocupação crescente com o aumento da quantidade de satélites em órbita.
Atualmente, há mais de 10 mil deles na órbita baixa da Terra, um número que continua crescendo, especialmente com os projetos de constelações de satélites, como o Starlink, que visa criar uma rede global de espaçonaves para fornecer internet de alta velocidade.
Com tantos satélites em operação, as chances de uma tempestade solar afetar esses dispositivos aumentam, o que pode causar falhas na comunicação, interrupções nos serviços de navegação e outros problemas tecnológicos.
Embora a zona de batalha solar represente uma ameaça maior para os satélites e para a infraestrutura espacial, ela também oferece uma oportunidade para os caçadores de auroras. Durante esse período, as chances de observar as luzes do norte aumentam, já que a atividade geomagnética será mais intensa.
Enquanto isso, as operadoras de satélites terão que enfrentar um desafio sem precedentes. As tempestades geomagnéticas e os efeitos do vento solar podem criar um ambiente espacial mais hostil, o que exige um monitoramento mais rigoroso e tecnologias mais avançadas para proteger os equipamentos.