O que são lentes gravitacionais e por que elas são importantes na Astronomia?
O Universo é vasto, e isso significa que a luz precisa passar por infinitos obstáculos para chegar até nós. Nesse percurso, ela se estica, contrai e deforma, afetando a maneira como enxergamos e entendemos o Universo. Mas, graças a uma teoria criada ainda na década de 1920, podemos compensar e corrigir erros que ocorreram a bilhões de anos-luz de distância, vamos entender mais sobre as lentes gravitacionais?
O que é o tecido do espaço-tempo?
O tecido do espaço-tempo é uma das ideias mais fascinantes da Ciência. Imagine que tudo que existe esta, na verdade, compondo uma gelatina ou geleia elástica que se estende por todo o Universo.
Quando um objeto massivo, como uma estrela ou um planeta, está presente, essa gelatina se deforma, criando uma curvatura ao redor dele. É como colocar uma bola pesada sobre a gelatina — ela afunda, formando uma depressão. Essa curvatura é o que chamamos de gravidade: o espaço e o tempo se moldam ao redor da massa, influenciando tudo que passa por ali.
Quanto maior a massa do objeto, mais intensa é a deformação que ele causa no espaço-tempo. Buracos negros, por exemplo, criam distorções tão profundas que nem mesmo a luz consegue escapar de sua influência, desaparecendo no que chamamos de horizonte de eventos.
É como se a realidade ao redor desses corpos fosse totalmente remodelada, alterando o caminho da luz, o fluxo do tempo e a percepção do espaço.
O que são lentes gravitacionais?
A Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein, proposta no início do século XX, fornece a base conceitual para entendermos esse fenômeno.
Segundo a relatividade geral, espaço e tempo estão interligados em uma única estrutura chamada espaço-tempo. Objetos com grande massa, como buracos negros, estrelas de nêutrons, galáxias ou aglomerados galácticos, causam uma deformação significativa no tecido do espaço-tempo. A gravidade, portanto, não é uma força no sentido clássico, mas a consequência dessa curvatura.
A luz, ao viajar por esse espaço-tempo curvo, tem seu trajeto desviado. Assim, a presença de um objeto muito massivo entre o observador (na Terra, por exemplo) e uma fonte de luz distante pode produzir imagens ampliadas, distorcidas ou múltiplas da mesma fonte.
E é justamente nesse fenômeno que ocorre o efeito das lentes gravitacionais. Esse desvio do percurso da luz funciona de maneira semelhante a uma lente óptica, dobrando e focando os raios luminosos provenientes de objetos mais distantes. O corpo que causa essa curvatura e consequente desvio da luz é chamado de lente gravitacional.
Leia também:
Por que as lentes gravitacionais são importantes na Astronomia?
Quando a luz emitida por uma galáxia muito distante passa próximo a um aglomerado de galáxias, atuando este como uma lente gravitacional. A luz da galáxia distante é “dobrada” em direção ao observador, produzindo imagens em forma de arcos, anéis luminosos (conhecidos como Anéis de Einstein) ou múltiplas imagens da mesma fonte.
Esses efeitos visuais permitem que astrônomos estudem características de objetos que, de outra forma, seriam muito tênues ou distantes para serem observados com clareza.
O Telescópio Espacial Hubble, lançado em 1990, revolucionou o estudo da lente gravitacional graças à sua resolução e sensibilidade. Ao estar acima da atmosfera terrestre, o Hubble evita a distorção causada pela turbulência do ar, obtendo imagens muito mais nítidas do Universo profundo.
Com isso, o observatório espacial consegue detectar e analisar detalhes sutis dentro das imagens distorcidas pelas lentes gravitacionais, revelando a estrutura interna de galáxias longínquas.