Análise indica que asteroide pode ser o primeiro troiano de Saturno

Análise indica que asteroide pode ser o primeiro troiano de Saturno
Publicado em 15/10/2024 às 16:00

Um asteroide descoberto em 2019, denominado 2019 UO14, foi recentemente mapeado e identificado como um troiano de Saturno. Isso significa que ele compartilha a mesma órbita do planeta, posicionando-se um pouco à frente ou atrás dele. Ainda a ser revisado por pares, o artigo que descreve a pesquisa está disponível em pré-impressão no repositório online arXiv.

A missão da espaçonave Lucy, lançada pela NASA com o objetivo de explorar os asteroides troianos de Júpiter, destaca a importância desses corpos celestes para entender a formação do Sistema Solar. 

Esses asteroides, que orbitam em pontos de Lagrange 60 graus em relação a Júpiter, são considerados essenciais para pesquisas sobre a evolução planetária. Até o momento, já foram identificados troianos em outros planetas gigantes, além da Terra e Marte, mas a busca por esses objetos em torno de Saturno era considerada uma lacuna.

Embora Saturno não fosse conhecido por ter um troiano anteriormente, uma de suas luas, Tétis, tem duas luas próprias, uma das quais, Calypso (na imagem), foi fotografada pela Cassini e provavelmente se assemelha ao asteroide 2019 UO14. Crédito: Domínio público NASA / JPL / SSI via Wikimedia Commons

Asteroide não será sempre troiano

Os cientistas suspeitavam que Saturno também tinha troianos e continuaram as investigações até que a descoberta de 2019 UO14 confirmasse suas suspeitas. 

Embora seja um achado promissor, o status de troiano do asteroide é temporário. Isso é comum, já que muitos troianos têm órbitas que mudam com o tempo devido à influência gravitacional de outros planetas. 

A gravidade de Saturno pode manter o 2019 UO14 em torno do ponto de Lagrange L4, mas outros planetas podem desviar a sua trajetória, fazendo com que ele eventualmente deixe de ser considerado um troiano.

No artigo, os pesquisadores sugerem que o corpo celeste pode ter sido capturado como um centauro, um tipo de objeto que orbita entre Júpiter e Netuno. Eles estimam que ele se tornou um troiano há aproximadamente 2.000 anos. Essa descoberta levanta a questão sobre a natureza dos troianos: se um centauro pode se tornar um troiano, seria correto considerá-lo “semi troiano”?

Em termos de características, o2019 UO14 apresenta colorações semelhantes aos troianos de Júpiter e Netuno, o que sugere que a análise do asteroide pela espaçonave Lucy pode fornecer informações relevantes. Os cientistas especulam que, se esse objeto tiver uma composição similar à de outros centauros, a sua proximidade com Saturno poderia aquecê-lo a ponto de parte de seu gelo se transformar em gás e escapar, resultando em uma atividade cometária. 

Embora não tenham sido observados sinais de atividade até agora, os pesquisadores acreditam que a possibilidade de que 2019 UO14 seja o primeiro troiano ativo já identificado justifica investigações mais aprofundadas.

Troianos de Júpiter são asteroides que viajam na mesma órbita do gigante gasoso. Até então, nenhum troiano tinha sido observado em Saturno. Crédito: NASA

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Por que nunca foram vistos troianos em Saturno?

Devido à distância do Sol, Urano e Netuno são lugares muito frios para que o gelo derreta. Já em Júpiter, muitos dos gases já teriam escapado, enquanto outros elementos, como o gelo de água, permaneceriam estáveis. Se 2019 UO14 não apresentar atividade, os cientistas acreditam que ele pode ter orbitado mais perto do Sol em sua história, perdendo seus gelos voláteis.

O asteroide  foi descoberto em 2019, no entanto, foi só em abril deste ano que o telescópio da Universidade do Havaí capturou imagens que ajudaram a mapear com mais precisão sua órbita. Essa nova coleta de dados, juntamente com informações prévias, possibilitou um mapeamento mais confiável.

A escassez de troianos conhecidos em torno de Saturno é intrigante, especialmente considerando que existem mais de 13 mil troianos associados a Júpiter. Embora seja esperado que Saturno tenha menos, devido à sua menor gravidade, a comparação com Urano, que possui ao menos um troiano conhecido, e Netuno, com 31, torna a situação ainda mais curiosa. 

Enquanto Marte tem 14 troianos e a Terra já identificou dois, a ausência deles em Saturno é vista como um desafio. Estudos sugerem que essa falta pode ter se originado na migração dos planetas gigantes, mas há bilhões de anos para a captura de novos troianos, e a influência gravitacional de Júpiter não deveria ser um obstáculo intransponível para Saturno.

Como explicar esse mistério? Novas pesquisas dirão.