Curso para operar colheitadeiras tem presença 100% feminina
“Acho que a mulher pode alcançar tudo o que ela quiser. Hoje, estamos buscando espaço onde às vezes não saberíamos. Hoje tem sempre uma vaguinha para nós”. Thaianny Rodrigues de Oliveira é uma das alunas do curso de Operação de Alta Performance em colheitadeiras de grãos formado 100% por mulheres no Centro de Treinamentos do Senar Mato Grosso de Rondonópolis.
Mulheres com diferentes origens e histórias de vida que se conectaram por um objetivo em comum: novas oportunidades.
Filha de motorista de caminhão, Thaianny teve seu interesse pelo campo despertado desde cedo. Ela conta ao Senar Transforma desta semana que diversos cursos apareceram em Jaciara, sua cidade, mas por ser muito nova, não ter habilitação e por serem pagos não pode fazer.
Hoje, mãe de dois filhos e após ter trabalhado como vendedora, secretária e auxiliar administrativa, Thaianny, com o apoio da família, “largou tudo” quando viu a chance de se qualificar gratuitamente para realizar este sonho.
“Larguei tudo. Me preparei e vim fazer. São quatro dias que podem mudar a minha história”, frisa ela ao programa do Canal Rural Mato Grosso.
Estrutura faz a diferença no aprendizado
E a base para esta mudança é o conhecimento. São 32 horas divididas entre aulas teóricas e práticas no Centro de Treinamentos da Instituição em Rondonópolis.
Conforme a supervisora do Centro de Treinamentos do Senar Mato Grosso de Rondonópolis, Susiane Azevedo, a estrutura do local ajuda a fazer a diferença no desempenho das aulas e na formação dos novos profissionais.
Além de Rondonópolis, o Senar Mato Grosso conta com outros dois centros, sendo um em Sorriso e outro em Campo Novo do Parecis.
Os Centros de Treinamentos nasceram da parceria entre o Senar Mato Grosso, Sindicatos Rurais e empresas privadas. Uma soma de forças que tem como foco a formação, a qualificação da mão de obra e a difusão de novas tecnologias.
As aulas práticas são equipadas com o que há de mais moderno em máquinas, implementos agrícolas e inovações tecnológicas, garantindo que os profissionais sejam preparados para enfrentar a realidade que vão encontrar no campo.
Curso 100% feminino é iniciativa de Sindicato
A turma formada exclusivamente por mulheres foi uma iniciativa do Sindicato Rural de Jaciara. De acordo com a presidente Juliana Bortoloni, a ideia surgiu entre ela e a mobilizadora do Senar no Sindicato.
“Nós lançamos esse curso e não tínhamos noção… A turma fechou imediatamente. Eu vejo como uma oportunidade para as mulheres adquirirem novas habilidades e serem protagonistas em um setor que tradicionalmente é ocupado por homens”.
Oportunidades em adquirir novas habilidades que foram abraçadas pela Rosilene Neves Gomes e pela zootecnista Jéssica Rays.
Rosilene que nunca havia dirigido uma máquina agrícola, com facilidade pegou o jeito de mexer nos comandos.
“Tem que memorizar ainda, mas é bem tranquilo. Eu nasci na roça. Toda a vida eu tive essa vontade, mas nunca tive a oportunidade. A primeira é essa mesmo. 47 anos e nós estamos aqui”, conta ela ao Senar Transforma.
Formada em zootecnia, Jéssica possui uma propriedade junto com o marido e faz questão de ressaltar que o curso de Operação de Alta Performance em colheitadeiras de grãos não é o seu primeiro no Senar Mato Grosso.
Entre os cursos já feitos por Jéssica estão alimentação de bovinos em período de seca, confinamento e semi-confinamento de bovinos, bem como conservação de solos.
“Quando começamos a estudar sobre solos, nutrição animal, a gente mexe muito com a parte de lavoura. A gente usa muito os produtos de lavoura para fazer a nutrição, a ração. Então, precisamos saber como funciona tanto a parte de solos quanto de plantio. E porque não a colheita? Espero levar isso como uma qualificação não só para o meu currículo, mas para a minha vida. É uma oportunidade de ouro e eu como mulher acredito que vá abrir muitas portas não só para mim, como para todas nós”.
Carência de profissionais e responsabilidade social
Segundo a presidente do Sindicato Rural de Jaciara, Juliana Bortoloni, é até uma responsabilidade social da entidade a percepção das necessidades do setor produtivo e das alternativas para suprir as mesmas.
“Nós sabemos que existe uma carência de profissionais habilitados, qualificados para operação de máquinas. Foi feita recentemente uma pesquisa pelo Imea, na qual 36% dos produtores falaram da falta de profissionais em operação de máquinas. Depois dessa informação o Sindicato Rural de Jaciara reorganizou seus cursos”.
O instrutor do Senar Mato Grosso, Lincoln dos Santos Neco comenta que o curso de operador de colheitadeiras é um dos mais demandados dentro da Instituição, inclusive daqueles que já trabalham com a operação e querem se atualizar.
“É importante que anualmente ou com a máxima frequência o operador possa passar por esse treinamento, para aprender a lidar com as tecnologias atuais”, diz o instrutor.
Assim como na unidade em Rondonópolis, as de Campo Novo do Parecis e Sorriso também ficam movimentadas o ano todo.
O resultado é visto em números. Em 2024, por exemplo, mais de 180 cursos já foram realizados nos três Centros de Treinamentos do Senar Mato Grosso.
“Através dos Sindicatos Rurais, que são nossos parceiros, são demandados esses treinamentos. Então, temos uma programação, um planejamento anual que fazemos com eles. Temos alunos de várias localidades. É importante ter essa divulgação”, frisa a supervisora do Centro de Treinamentos de Rondonópolis, Susiane Azevedo.
Susiane comenta ainda que o Senar Mato Grosso oferece locomoção para os alunos, como é o caso das alunas de Jaciara. “Todos os dias pegamos no Sindicato Rural e trazemos aqui para o Centro de Treinamentos. Ficam o dia todo e depois levamos de volta”.
Experiência nova até para o instrutor
O instrutor Lincoln dos Santos Neco conta ao Senar Transforma que o trabalho operacional no campo é em sua maioria realizado por homens.
“Normalmente, as mulheres representam 20%, 30% dos alunos do meu treinamento. Então, uma turma com 100% de mulheres é uma experiência nova, diferente”.
Todas as atividades, destaca ele, estão sendo feitas pelas próprias alunas para que elas possam entender e ver que são capazes de realizar essas atividades.
“E a mulher tem realmente essa capacidade. Todo curso tem em comum a vontade de aprender, de ingressar no meio. Isso facilita também o treinamento. É notório que elas estão tendo uma boa absorção e eu tenho certeza que irão fazer um excelente trabalho em campo”.
E quando questionada se vai parar no curso de Operação de Alta Performance em colheitadeiras de grãos, Thaianny Rodrigues de Oliveira, que jogou tudo para viver este sonho, afirma: “Não parei por aqui. Nos próximos o meu nome estará lá. É como eu falei… Larguei tudo e graças a Deus deu tudo certo”.
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