esse animal é capaz de encolher o cérebro

esse animal é capaz de encolher o cérebro
Publicado em 15/01/2025 às 15:06

Às vezes, quando esquecemos onde colocamos as chaves ou erramos uma conta simples que parecia óbvia, nos pegamos pensando se nosso cérebro diminuiu. Mas, e se realmente fosse possível encolher o cérebro para sobreviver em condições extremas, e depois fazê-los voltar ao tamanho normal?

Essa habilidade, que parece coisa de ficção científica, é exatamente o que o musaranho, um bichinho muito interessante, consegue fazer de maneira surpreendente e engenhosa.

O musaranho eurasiano, ou Sorex araneus, é um pequeno mamífero que chama atenção por suas peculiaridades biológicas. Esse animal habita vastas áreas da Europa e Ásia, vivendo em florestas, campos e até zonas úmidas.

Apesar de seu tamanho diminuto, que varia entre 5 e 9 centímetros, e peso de apenas 5 a 15 gramas, o musaranho é incrivelmente ativo. Seu metabolismo acelerado exige que ele consuma uma quantidade de alimentos equivalente ao seu peso diariamente, com uma dieta composta majoritariamente por insetos, vermes e outros pequenos invertebrados.

Esse mamífero é um predador, mesmo com seu comportamento discreto e solitário. Ele prefere temperaturas amenas e ambientes com cobertura vegetal, onde encontra abrigo e alimento. O musaranho eurasiano também é territorial, e sua sobrevivência em condições adversas é resultado de adaptações bastante curiosas.

Talvez a mais incrível delas é sua capacidade de encolher o próprio cérebro e outros órgãos durante o inverno, uma estratégia que surpreendeu cientistas e despertou a curiosidade de muitos.

Exemplar taxidermizado de musaranho eurasiano (Sorex araneus), mostrando seu tamanho em comparação com uma régua. Crédito: Auckland Museum, CC BY 4.0, via Wikimedia Commons.

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A descoberta desse fenômeno extraordinário foi liderada por Javier Lázaro e sua equipe de pesquisadores. O estudo, publicado em 2017 na revista científica Current Biology, revelou que essa habilidade adaptativa, conhecida como “fenômeno de Dehnel”, envolve uma série de mudanças físicas que permitem ao musaranho reduzir drasticamente suas necessidades metabólicas em épocas de escassez de alimentos.

A pesquisa utilizou tomografias para monitorar as alterações no corpo do musaranho ao longo das estações, confirmando que esses animais são capazes de reduzir o tamanho de seus cérebros em até 20% durante os meses mais frios.

Por que o musaranho eurasiano encolhe o próprio cérebro?

A capacidade de encolher o cérebro é uma adaptação evolutiva que ajuda o musaranho a sobreviver aos rigores do inverno. Durante essa estação, o alimento se torna escasso, e manter um metabolismo elevado seria inviável para um animal tão pequeno.

Ao reduzir o tamanho de órgãos vitais, como o cérebro, coração e fígado, o musaranho diminui drasticamente seu consumo de energia, garantindo sua sobrevivência até que as condições melhorem.

Além do encolhimento dos órgãos, o musaranho também perde massa corporal e densidade óssea. Essas mudanças são temporárias e reversíveis, permitindo que o animal recupere suas capacidades plenas quando a primavera traz mais abundância alimentar.

Embora essa adaptação seja vital, ela não é isenta de consequências. A redução do cérebro pode afetar a cognição do musaranho, tornando-o menos eficiente em tarefas como encontrar comida e evitar predadores. Mesmo assim, a economia de energia proporcionada por esse processo supera as possíveis desvantagens, garantindo a sobrevivência da espécie em um ambiente hostil.

Como o musaranho consegue encolher o cérebro?

O encolhimento do cérebro e de outros órgãos ocorre por meio de um processo conhecido como reabsorção de tecido. Durante o inverno, o musaranho reabsorve parcialmente o tecido de órgãos internos, incluindo o sistema nervoso. Isso resulta em uma redução significativa no tamanho e na função desses órgãos.

No caso do cérebro, as células encolhem, e há uma diminuição na massa cerebral total, o que reduz a demanda energética. Com a chegada da primavera, o corpo do musaranho inicia um processo de recuperação, em que os órgãos voltam a crescer e o animal recupera suas funções cognitivas e físicas.

Os cientistas descobriram esse mecanismo ao acompanhar os musaranhos ao longo do ano, utilizando tecnologias como tomografias computadorizadas e análises de tecidos. Essa abordagem permitiu identificar que a redução do cérebro é parte de uma estratégia energética integrada, que inclui mudanças no tamanho do coração, fígado e densidade óssea.

Além disso, observaram que o crescimento reverso desses órgãos ocorre de forma sincronizada com a mudança de estação, garantindo que o musaranho esteja apto a enfrentar os desafios do verão, quando a competição por alimentos é intensa.

Com informações de Nature.