Estudo sugere ligação entre Alzheimer e vírus do herpes
Pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona (EUA) e do Instituto Banner Alzheimer’s (EUA) identificaram conexão intrigante entre a doença de Alzheimer e um dos vírus da família do herpes.
A descoberta, publicada na quinta-feira (19) no Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association, aponta que o citomegalovírus (CMV), um dos nove patógenos dessa família, pode estar relacionado a até 45% dos casos da doença.
De acordo com o estudo, uma infecção intestinal crônica causada pelo CMV pode contribuir para o desenvolvimento de um subtipo específico de Alzheimer anos depois. “Acreditamos ter identificado subtipo biologicamente único de Alzheimer que pode afetar de 25% a 45% das pessoas diagnosticadas com essa condição”, afirmou o coautor da pesquisa, Ben Readhead, em comunicado.
Caso a hipótese seja confirmada, os cientistas planejam explorar o uso de medicamentos antivirais como opções para prevenir ou tratar o Alzheimer associado ao CMV. Para isso, estão desenvolvendo um exame de sangue capaz de identificar pessoas infectadas pelo vírus e que poderiam se beneficiar dessas terapias.
Papel do citomegalovírus
O citomegalovírus é amplamente disseminado: estima-se que grande parte da população entre em contato com ele nas primeiras décadas de vida. O vírus é transmitido por meio de fluidos corporais, como saliva, urina, sangue e secreções genitais, mas só se espalha quando está ativo.
Embora a maioria das pessoas infectadas não apresente sintomas, o CMV pode causar complicações graves em indivíduos imunocomprometidos, incluindo inflamação cerebral (encefalite), pneumonia e cegueira.
Como o vírus pode influenciar o Alzheimer
- Os pesquisadores descobriram que, em certos casos, o citomegalovírus permanece ativo no intestino por longos períodos, podendo migrar para o cérebro através do nervo vago;
- No cérebro, ele é reconhecido pela microglia, célula imunológica que ativa o gene CD83, envolvido em mudanças biológicas características do Alzheimer;
- Estudos anteriores já haviam apontado relação entre a ativação do CD83 e o Alzheimer;
- Recentemente, os cientistas identificaram anticorpo no intestino de pacientes com Alzheimer, que reforça a possibilidade de infecção pelo CMV estar associada ao desenvolvimento da doença.
Contato com o vírus não é sinônimo de risco elevado
Apesar das descobertas, os especialistas ressaltam que a maioria das pessoas entra em contato com o citomegalovírus ao longo da vida sem desenvolver Alzheimer. Dados mostram que cerca de 80% dos indivíduos apresentam anticorpos contra o vírus aos 80 anos, mas apenas um subconjunto enfrenta infecções intestinais crônicas relacionadas à doença.
Portanto, os pesquisadores alertam que a simples exposição ao CMV não deve ser motivo de preocupação, mas abre caminho para novas abordagens no estudo e tratamento do Alzheimer.