Grandes Lagos (meio que) existem antes da América do Norte, diz pesquisa

Grandes Lagos (meio que) existem antes da América do Norte, diz pesquisa
Publicado em 07/01/2025 às 16:18

Os Grandes Lagos da América do Norte se formaram há cerca de 20 mil anos numa depressão originada antes do continente sequer existir

(Imagem: BEST-BACKGROUNDS/Shutterstock)

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Os Grandes Lagos da América do Norte se formaram há cerca de 20 mil anos numa depressão esculpida por geleiras durante a Era do Gelo. E uma pesquisa recente aponta que essa depressão foi criada por um hotspot sob a região há aproximadamente 300 milhões de anos. Nesta época, a América do Norte nem existia (era parte do supercontinente Pangeia).

Hotspots (ou pontos quentes) são plumas de material quente que sobem do manto terrestre e interagem com a crosta. Entre os exemplos do que apareceu por conta dessa interação, estão o Arquipélago do Havaí e o Parque Nacional de Yellowstone.

No caso dos Grandes Lagos, o hotspot de Cabo Verde aqueceu e esticou a crosta. E isso causou uma depressão na topografia da região.

  • Para quem não sabe: Grandes Lagos são um conjunto de lagos localizados no centro-leste da América do Norte e conectados ao Oceano Atlântico por meio do Rio São Lourenço;
    • Os cinco lagos são: Superior, Michigan, Huron, Erie e Ontario (você pode se aprofundar clicando aqui).

Interação entre hotspot e crosta sob Grandes Lagos milhões de anos atrás deixou marcas detectáveis até hoje

A pesquisa revelou que a interação do ponto quente com a crosta sob os Grandes Lagos deixou marcas detectáveis até hoje. Entre elas, está uma deformação chamada anisotropia radial. Ela altera o comportamento das ondas sísmicas na área.

Um mapa mostrando a trilha do hotspot do Cabo Verde que teria originado Grandes Lagos da América do Norte
Mapa mostra, em vermelho, o hotspot de Cabo Verde proposto (Imagem: Tao et al., 2024/CC BY 4.0)

O ponto quente de Cabo Verde esteve sob o atual Lago Superior entre 300 milhões e 225 milhões de anos atrás. O, digamos, trajeto foi o seguinte:

  • À medida que o continente norte-americano se movia, o ponto quente passou sob os atuais lagos Huron e Erie;
  • Depois, traçou um caminho pela região do oeste-central de Nova York e Maryland;
  • Por fim, chegou ao Atlântico, há cerca de 170 milhões de anos.

Os vestígios do hotspot explicam peculiaridades sísmicas na crosta sob os Grandes Lagos, descobertas pela equipe de Li. E a deformação detectada combina perfeitamente com o movimento do continente sobre o ponto quente, conforme reconstruções tectônicas apontadas por Jonny Wu, também da Universidade de Houston.

Essa descoberta se baseia no conhecimento de outros hotspots antigos, como o do Grande Meteoro. Este passou pela fronteira de Ontário e Quebec e pelo nordeste dos EUA antes de atingir o Atlântico, entre 150 e 115 milhões de anos atrás.

  • Hotspots antigos muitas vezes deixam evidências geológicas, como kimberlitos – rochas vulcânicas capazes de trazer diamantes à superfície.

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Próximos passos

Penhasco sobre Lago Superior, um dos Grandes Lagos da América do Norte, durante pôr do sol
Pesquisadores planejam investigar outras partes da região dos Grandes Lagos (Imagem: Craig Hinton/Shutterstock)

Agora, os pesquisadores planejam estender seu modelo para outras partes da região dos Grandes Lagos. A ideia é investigar se há uma relação mais ampla entre hotspots antigos e grandes lagos internos em outras partes do mundo.

A hipótese sugere que lagos semelhantes podem ter se formado em locais onde pontos quentes antigos moldaram a crosta terrestre. Isso poderia fornecer insights sobre como os fenômenos do manto contribuíram para a evolução dos continentes ao longo de milhões de anos.


Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba. Já escreveu para sites, jornal e revista. Agora, é redator do Olhar Digital, onde escreve sobre (quase) tudo.