Grandes Lagos (meio que) existem antes da América do Norte, diz pesquisa
Os Grandes Lagos da América do Norte se formaram há cerca de 20 mil anos numa depressão originada antes do continente sequer existir
Os Grandes Lagos da América do Norte se formaram há cerca de 20 mil anos numa depressão esculpida por geleiras durante a Era do Gelo. E uma pesquisa recente aponta que essa depressão foi criada por um hotspot sob a região há aproximadamente 300 milhões de anos. Nesta época, a América do Norte nem existia (era parte do supercontinente Pangeia).
Hotspots (ou pontos quentes) são plumas de material quente que sobem do manto terrestre e interagem com a crosta. Entre os exemplos do que apareceu por conta dessa interação, estão o Arquipélago do Havaí e o Parque Nacional de Yellowstone.
No caso dos Grandes Lagos, o hotspot de Cabo Verde aqueceu e esticou a crosta. E isso causou uma depressão na topografia da região.
- Para quem não sabe: Grandes Lagos são um conjunto de lagos localizados no centro-leste da América do Norte e conectados ao Oceano Atlântico por meio do Rio São Lourenço;
- Os cinco lagos são: Superior, Michigan, Huron, Erie e Ontario (você pode se aprofundar clicando aqui).
Interação entre hotspot e crosta sob Grandes Lagos milhões de anos atrás deixou marcas detectáveis até hoje
A pesquisa revelou que a interação do ponto quente com a crosta sob os Grandes Lagos deixou marcas detectáveis até hoje. Entre elas, está uma deformação chamada anisotropia radial. Ela altera o comportamento das ondas sísmicas na área.
O ponto quente de Cabo Verde esteve sob o atual Lago Superior entre 300 milhões e 225 milhões de anos atrás. O, digamos, trajeto foi o seguinte:
- À medida que o continente norte-americano se movia, o ponto quente passou sob os atuais lagos Huron e Erie;
- Depois, traçou um caminho pela região do oeste-central de Nova York e Maryland;
- Por fim, chegou ao Atlântico, há cerca de 170 milhões de anos.
Os vestígios do hotspot explicam peculiaridades sísmicas na crosta sob os Grandes Lagos, descobertas pela equipe de Li. E a deformação detectada combina perfeitamente com o movimento do continente sobre o ponto quente, conforme reconstruções tectônicas apontadas por Jonny Wu, também da Universidade de Houston.
Essa descoberta se baseia no conhecimento de outros hotspots antigos, como o do Grande Meteoro. Este passou pela fronteira de Ontário e Quebec e pelo nordeste dos EUA antes de atingir o Atlântico, entre 150 e 115 milhões de anos atrás.
- Hotspots antigos muitas vezes deixam evidências geológicas, como kimberlitos – rochas vulcânicas capazes de trazer diamantes à superfície.
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Próximos passos
Agora, os pesquisadores planejam estender seu modelo para outras partes da região dos Grandes Lagos. A ideia é investigar se há uma relação mais ampla entre hotspots antigos e grandes lagos internos em outras partes do mundo.
A hipótese sugere que lagos semelhantes podem ter se formado em locais onde pontos quentes antigos moldaram a crosta terrestre. Isso poderia fornecer insights sobre como os fenômenos do manto contribuíram para a evolução dos continentes ao longo de milhões de anos.
Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba. Já escreveu para sites, jornal e revista. Agora, é redator do Olhar Digital, onde escreve sobre (quase) tudo.