O que faz o solo de Marte ser “crocante”? Cientistas respondem

O que faz o solo de Marte ser “crocante”? Cientistas respondem
Publicado em 07/11/2024 às 13:00

Uma equipe do Centro Aeroespacial Alemão (DLR) divulgou novas informações sobre os motivos que levam o solo de Marte ser considerado “crocante”. As análises foram feitas no Centro de Apoio ao Usuário de Microgravidade do Instituto de Operações Espaciais e Formação de Astronautas da agência, na cidade de Colônia (Alemanha). 

Os pesquisadores usaram dados coletados na missão InSight (sigla em inglês para “Exploração Interior usando Investigações Sísmicas, Geodésia e Transporte de Calor”), da NASA, lançada em novembro de 2018 e aposentada em dezembro de 2022.

O levantamento mostrou que a temperatura detectada em uma área de 40 centímetros da superfície marciana, de -56°C, levou à formação de películas de sal que endurecem o solo. Durante o dia, a temperatura do solo flutua de 5°C a 7°C. Na superfície, a variação é de 110°C a 130°C.

Instrumento “cavou” o solo de Marte. Crédito: NASA/Divulgação

Sazonalmente, a temperatura flutuava em 13ºC e, nas camadas próximas à superfície, permanecia abaixo do ponto de congelamento da água. Isso demonstra que o solo marciano tem propriedades isolantes, reduzindo de forma significativa as diferenças de temperatura em profundidades rasas – em 10 a 20 vezes mais do que o solo próximo à superfície da Terra.

Como consequência, as propriedades físicas são diversas, incluindo elasticidade, condutividade térmica, capacidade de calor, movimento do material interno e a velocidade das ondas sísmicas.

De acordo com o estudo, a temperatura permite a formação de películas finas de salmouras líquidas e salgadas, por dez horas ou mais durante um dia marciano no inverno e na primavera, quando há umidade suficiente na atmosfera.

“A solidificação dessa salmoura é, portanto, a explicação mais provável para a camada de crosta dura observada de aproximadamente 20 centímetros de espessura de areia solidificada e coesa”, informa o comunicado do DLR.

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Conceito artístico da sonda InSight “tomando o pulso de Marte”. Crédito: NASA / JPL-Caltech

Por dentro da crocância do solo de Marte

Os dados também dão pistas sobre a evolução geológica de Marte. A principal hipótese é de que a atividade cessou há cerca de três bilhões de anos, no final do período Hesperiano, embora ainda haja evidências de lava em sua região central.

A menor massa e pressão do interior do Planeta Vermelho teriam causado o resfriamento mais rápido dessa área, fazendo com que o núcleo externo se solidificasse, enquanto seu núcleo interno se tornou líquido. Isso, no entanto, ainda é uma teoria.

A comparação da temperatura do solo com a temperatura da superfície também possibilitou o cálculo da densidade do solo de Marte pela primeira vez. O estudo mostrou que a medida é comparável à da areia basáltica, um produto de intemperismo de rocha vulcânica rica em ferro e magnésio comum na Terra. Abaixo disso, há areia consolidada e fragmentos de basalto mais grossos.

“A temperatura também tem uma forte influência nas reações químicas que ocorrem no solo, na troca com moléculas de gás na atmosfera e, portanto, também em potenciais processos biológicos relacionados à possível vida microbiana em Marte“, diz Tilman Spohn, principal investigador do experimento.