O relatório bienal sobre o “Futuro dos Empregos”, do Fórum Econômico Mundial, divulgado nesta quarta-feira (8), apresenta as mais recentes análises e previsões sobre como as mudanças tecnológicas, sociais e econômicas estão moldando o mercado de trabalho como forma de antecipar a preparação da sociedade aos novos empregos do futuro. Por mais que esse intervalo de cinco anos possa ser marcado por incertezas e crises, uma coisa é certa: a profissão docente, em seus diversos níveis de ensino, aparece entre as 15 que mais crescem até 2030.

O documento explica que esse destaque à carreira docente está principalmente relacionado a um fator demográfico: o aumento da população em idade de trabalhar, especialmente nos países em desenvolvimento, o que impulsiona a demanda por profissões ligadas à educação, como os professores de ensino superior. O estudo do Fórum Econômico Mundial não entra em detalhes, mas fica a dúvida se essa maior demanda será acompanhada de uma valorização correspondente.

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No curto prazo, ainda em 2025, o documento menciona que o cenário continua a se transformar rapidamente, impulsionado por avanços em inteligência artificial (IA), que estão remodelando setores inteiros e redefinindo funções. Como se não bastasse, essas inovações vêm acompanhadas de um “pacote” de desafios como instabilidade econômica, tensões geopolíticas, mudanças climáticas e novas expectativas sociais, que também terão um papel importante na transformação do mercado de trabalho até 2030.

A quinta edição do relatório reúne dados de mais de 1 mil empregadores de 22 setores e 55 economias. A pesquisa aponta como as tendências tecnológicas, a transição verde, as mudanças demográficas e as tensões geoeconômicas influenciarão tanto a criação quanto o desaparecimento de empregos, além de destacar a crescente demanda por novas habilidades, como inteligência artificial, cibersegurança e pensamento criativo. A principal conclusão, que também serve como um alerta, é que a lacuna de habilidades continua sendo a maior barreira para a transformação dos negócios atualmente. Quase 40% das habilidades exigidas para os cargos estão mudando, e 63% dos empregadores já consideram isso o maior desafio que enfrentam.

O objetivo do relatório é mostrar como a previsão e a ação coletiva serão fundamentais para enfrentar essas mudanças. Com o levantamento, o Fórum Econômico espera inspirar trabalhadores, empresas, governos, educadores e a sociedade em geral a se planejarem para as grandes transformações que estão por vir no mercado de trabalho.

Fatores de transformação 

Confira os principais destaques do relatório e os motivos que devem transformar o mercado de trabalho global até 2030:

• Avanço da digitalização: é apontado como o fator mais transformador, com 60% dos empregadores acreditando que esse crescimento vai mudar seus negócios até 2030. Tecnologias como IA, processamento de informações (86%), robótica e automação (58%) e geração e distribuição de energia (41%) também devem ter grande impacto. Isso vai tanto criar novas funções como extinguir outras, ampliando a demanda por habilidades tecnológicas, como análise e tomada de decisão a partir de dados, redes e cibersegurança. 
• Custo de vida: é classificado como o segundo fator mais transformador, com metade dos empregadores acreditando que o custo de vida vai impactar seus negócios, mesmo com a previsão de redução da inflação global. O crescimento econômico mais lento pode eliminar 1,6 milhão de empregos globalmente, aumentando a demanda por habilidades como pensamento criativo, resiliência, flexibilidade e agilidade.
• Mudanças climáticas: a mitigação do impacto climático é a terceira tendência mais transformadora, com 47% dos empregadores citando isso como uma prioridade. A adaptação às mudanças climáticas é outra preocupação, que deve ampliar profissões como engenheiros de energia renovável, engenheiros ambientais e especialistas em veículos elétricos e autônomos.
• Mudanças demográficas: o envelhecimento da população nos países ricos e o aumento da população em idade ativa em países de baixa renda são duas grandes tendências. Isso eleva a demanda por habilidades como gestão de talentos, ensino e mentoria. Profissões na área da saúde e educação devem crescer significativamente.
• Fragmentação geoeconômica e tensões geopolíticas: um terço dos empregadores espera transformar seus modelos de negócios devido a essas mudanças. Aumento de barreiras comerciais e políticas industriais também são fatores que afetam operações. Isso amplia a demanda por habilidades relacionadas à segurança e cibersegurança, além de habilidades humanas, como flexibilidade e adaptação.

Habilidades e papel da educação

O relatório aborda o papel da educação em diversas dimensões, com foco em como ela pode se adaptar às mudanças do mercado de trabalho impulsionadas pela tecnologia e pela inteligência artificial. Selecionamos alguns destaques, porque o tom é bem semelhante a edições anteriores, exceto pela ênfase em inteligência artificial:

• Requalificação e aprimoramento profissional: existe uma necessidade urgente de estratégias de requalificação e aprimoramento profissional para superar as lacunas emergentes de habilidades. Essas estratégias são importantes para ajudar os trabalhadores a se adaptarem a funções que combinam conhecimento técnico com habilidades humanas.
• Foco em habilidades relevantes: três diferentes tipos de habilidades que já são e serão ainda mais demandadas trazem indícios de como instituições de ensino podem planejar seus currículos:
  • Habilidades tecnológicas: alfabetização tecnológica, inteligência artificial, redes e segurança cibernética.
  • Habilidades humanas: empatia, escuta ativa, curiosidade, aprendizado ao longo da vida, resiliência, flexibilidade, agilidade, liderança e influência social.
  • Habilidades cognitivas: pensamento analítico e criativo.
• Necessidade de aprendizado contínuo: como se tornou comum, o relatório cita a importância da curiosidade e do aprendizado ao longo da vida, especialmente nos setores de seguros e gestão de pensões, educação e treinamento, e telecomunicações.
• Mudança nas avaliações de habilidades: existe uma mudança no mercado de trabalho que valoriza cada vez mais as avaliações de habilidades práticas e testes aplicados durante o processo seletivo, em vez de priorizar certificações tradicionais, como os cursos universitários teóricos, que muitas vezes resultam apenas em um diploma para pendurar na parede.

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Panorama das profissões até 2030

Até 2030, funções de linha de frente, como aquelas desempenhadas por trabalhadores agrícolas, motoristas de entrega e operários da construção civil, deverão ter o maior crescimento de empregos. As profissões da área de cuidados, como enfermeiros, e da educação, como professores do anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, também devem crescer devido às mudanças demográficas. 

Ao mesmo tempo, os avanços em IA, robótica e energias renováveis estão criando uma grande demanda por profissionais especializados nessas áreas. Por outro lado, cargos como operadores de caixas, assistentes administrativos e designers gráficos estão entre os que mais devem diminuir, à medida que a inteligência generativa transforma rapidamente o mercado de trabalho.

A lacuna de habilidades continua sendo o maior obstáculo para a transformação das empresas diante de grandes tendências globais, sendo apontada por 63% dos empregadores como a principal barreira para preparar suas empresas para o futuro. O estudo do Fórum Econômico traz então o seguinte exercício: se a força de trabalho global fosse representada por 100 pessoas, 59 precisariam de requalificação ou aprimoramento de habilidades até 2030. Dessas, 11 provavelmente não terão acesso ao treinamento necessário, colocando mais de 120 milhões de trabalhadores em risco de perder o emprego no médio prazo.

Empregos de maior crescimento e declínio projetados até 2030

Destaques sobre o Brasil

O estudo também traz alguns recortes relacionados ao Brasil. Assim como em muitos outros países, a lacuna de habilidades é vista como uma barreira principal para a transformação dos negócios até 2030. 

• Empregadores preveem crescimento em funções como especialistas em transformação digital, especialistas em IA e aprendizado de máquina, e especialistas em cadeia de suprimentos e logística. 
• Quase 9 em cada 10 empresas no Brasil planejam aprimorar as habilidades de sua força de trabalho nos próximos cinco anos. Embora as habilidades em inteligência artificial, análise e tomada de decisão a partir de dados, pensamento criativo e letramento tecnológico sejam esperadas como as de crescimento mais rápido no país, as empresas também preveem um foco maior em empatia e escuta ativa, mencionados por 60% dos entrevistados, além de resiliência, flexibilidade, agilidade, curiosidade e aprendizado contínuo.
• O Brasil, como outros países, deve vivenciar um crescimento líquido de empregos, mas também um significativo deslocamento de carreiras existentes. O relatório aponta que o mercado de trabalho global terá um crescimento líquido de 78 milhões de empregos até 2030, resultado do balanço entre empregos criados e perdidos.
• Como em outros países da América Latina e do Caribe, é previsto que a transformação no mercado de trabalho brasileiro será impulsionada principalmente pela digitalização, pela crescente importância das questões laborais e sociais, pelos esforços de mitigação das mudanças climáticas e pelas incertezas econômicas.