Secretarias inovam na gestão a partir do uso de tecnologia

Secretarias inovam na gestão a partir do uso de tecnologia
Publicado em 02/10/2024 às 7:45

Às vezes aclamada, às vezes quase invisível: a tecnologia pode ser uma aliada bem discreta da educação ao apoiar processos internos da gestão, diminuir as burocracias das redes de ensino e promover a transparência das ações para a comunidade. 

Esse trabalho que acontece “por trás das cortinas” faz com que professores, gestores e famílias tenham mais tempo para dedicarem ao que realmente importa: a aprendizagem dos estudantes. A boa atuação com a digitalização de processos rendeu às secretarias de Educação de Marília (SP) e Vitória da Conquista (BA) o Prêmio “Gestão Inovadora na Educação”. Iniciativa da Mind Lab, metodologia de ensino que adota jogos de raciocínio para desenvolver habilidades cognitivas e socioemocionais em crianças e jovens, a ação tem apoio técnico do Porvir.

📳 Inscreva-se no canal do Porvir no WhatsApp para receber nossas novidades

Até recentemente, a rede municipal de Marília, interior de São Paulo, não tinha sequer uma página oficial na internet. As informações ao público acabavam publicadas nas redes sociais, de forma pouco sistematizada. A criação de um site pode parecer, a princípio, uma medida “simples”, mas ele se tornou um instrumento de comunicação, transparência e desburocratização. 

No portal, todos os documentos oficiais da rede estão abertos ao público, algo que faz com que os pais possam saber o que seus filhos vão comer na escola a cada dia, que os auditores do Tribunal de Contas possam checar facilmente atas de reuniões, ou se editais e contratações estão de acordo com a lei. “Oficializar nosso site foi um dos pontos de partida, e nós o fizemos com a própria equipe da secretaria, a custo zero. Não é um site para fazer propaganda do município, mas um serviço para a população”, diz o secretário Helter Rogério Bochi.

As informações passaram a circular mais rapidamente também para quem atua na própria rede. Os professores podem, por exemplo, consultar a qualquer hora os documentos norteadores do seu trabalho, como o currículo municipal, planos e projetos. 

Os gestores das escolas ganharam mais agilidade também para fazer pedidos de materiais ou comunicações oficiais com a secretaria, pois os ofícios deixaram de ser em papel: agora, os processos seguem pelo sistema da prefeitura. 

“Antes, para um diretor fazer um pedido de mobiliário, por exemplo, ele tinha que mandar um ofício por malote, que chegava na secretaria com documentos das 64 escolas, e precisavam ser despachados para o setor certo. Essa tramitação, que levava uns 15 dias, agora se dá na hora. O diretor já manda (o pedido) para o setor e não dá para ninguém ficar enrolando. Eu abro um documento e fica registrado: o secretário abriu o documento há 4 minutos. Isso gera muita eficiência”, relata Helter.

Relacionadas

Comunidades de prática: regras vão além de estar em grupos de WhatsApp

ACESSAR

Jornada de coordenadores de tecnologia demanda competências além das digitais

ACESSAR

Inovação curricular começa pela sintonia entre gestão e comunidade escolar

ACESSAR

Agilizar a gestão não é um fim em si mesmo, mas sim uma estratégia para permitir que os esforços se concentrem na aprendizagem. Até porque, as tecnologias também precisam estar presentes nas salas de aula, nas mãos de estudantes e professores. E, mais uma vez, a rede usou sua própria capacidade: a pesquisa de mestrado de uma professora, que fez o levantamento das competências tecnológicas dos professores da rede, serviu de base para traçar as estratégias. 

“Fizemos formações para os nossos professores, diretores, pessoal de apoio, sempre com parcerias e o nosso próprio setor de informática”, conta a supervisora Rita de Cássia Pelozo, que testemunhou a diferença que uma formação tão personalizada faz. “A gente percebia a dificuldade do professor em enxergar que a tecnologia pode otimizar o trabalho dele. Algumas professoras tinham medo do notebook, da lousa interativa, mas vimos essas profissionais se redescobrindo, virando entusiastas. Foi bonito perceber transformações que a gente não imaginava”, afirma Rita.

Benefícios dentro e fora da escola

Em Vitória da Conquista, na Bahia, os primeiros a sentir mudanças com aplicação de tecnologias na gestão foram as famílias: há dois anos a cidade passou a ter todas as matrículas online, o que acabou com as filas na porta das escolas. “Acabou com aquela história de famílias dormindo na porta da escola. E agilizou o processo, porque antes os funcionários ficavam conferindo toda a documentação em papel, e temos unidades escolares com quase dois mil alunos”, conta o secretário de Educação Edgard Larry. 

O processo começou com um piloto, na educação infantil, depois foi ampliado para as demais etapas. Para que a nova forma de matricular realmente chegasse a todos, sem provocar exclusões, a secretaria disponibilizou equipes para ajudar as famílias que precisassem de apoio nesse processo, por não terem equipamentos ou conhecimentos para efetivar a matrícula sozinhos. Com a matrícula digital, as famílias puderam também acompanhar as listas de espera para creches ou escolas mais concorridas, o que deu bastante transparência ao processo. 

E há mais mudanças estratégicas à vista: a rede prepara a implementação de um sistema que funciona como um diário de classe digital. “Vai possibilitar à rede soluções rápidas em relação a uma série de atividades dos nossos professores e gestores. No que diz respeito a matrículas e evasão, ficará disponível para o nosso núcleo específico de busca ativa dos alunos”, cita o secretário. 

A visão de que a tecnologia precisa servir a todos perpassa a educação na cidade baiana, desde as áreas administrativas, e chegando também ao pedagógico. Como os recursos são limitados, cabe aos gestores terem estratégias adequadas para que, cada vez que qualquer aparelho novo entre nas escolas, o acesso seja garantido para quem mais precisa. E os professores passam por formações, de forma a aproveitar bem os recursos. 

Foi o caso de mesas de jogos virtuais adquiridas recentemente. “Tivemos que fazer uma reorganização e algumas unidades foram selecionadas. Receberam as escolas com turmas de educação infantil e também as com salas de recursos multifuncionais (que recebem alunos com necessidades especiais)”, conta Alexandra Alves dos Santos, coordenadora pedagógica da rede, explicando que a prioridade foi dada a quem mais precisa. 

“Temos outra ferramenta de educação inclusiva, que ajuda no letramento de quem tem dificuldade motora. Os professores receberam formação e cada um pôde se organizar, fazer seu planejamento. Hoje a gente recebe muitos relatos deles, dizendo que os alunos se sentem alegres e motivados. Afinal, a educação é um direito para todos”, conclui Alexandra. 

Quer saber mais sobre o apoio da tecnologia na educação socioemocional?
Clique e acesse