Tempo de espera dificulta o tratamento da diabetes no Brasil | FTN Brasil
RAVENNA ALVES
DO METRÓPOLES
Uma pesquisa brasileira inédita aponta que o tempo de espera para agendamento de consultas médicas é uma das maiores barreiras no tratamento do diabetes no Brasil.
Segundo o levantamento intitulado Radar Nacional sobre Tratamento de Diabetes no Brasil, realizado pela consultoria Imagem Corporativa, 13% dos pacientes não recebem orientação regular para acompanhamento, o que representa cerca de 2 milhões de brasileiros.
Este cenário impacta diretamente no controle da glicemia, com 30% dos respondentes apresentando hemoglobina glicada acima de 7%, indicador de risco elevado.
Em relação ao acesso a especialistas, 58% dos pacientes com diabetes são atendidos por médicos da família em vez de endocrinologistas, que têm especialização sobre a condição. A falta de acompanhamento especializado reflete-se nas altas taxas de complicações da doença, como retinopatia diabética (27%), neuropatia (32%), problemas cardiovasculares (25%) e feridas nos pés (10%).
“As pessoas com diabetes no Brasil são acompanhadas na sua maioria por médicos da família ou clínicos, que nem sempre apresentam treinamento adequado para essa patologia”, explica Monica Gabbay, professora e coordenadora do ambulatório de tecnologia em diabetes na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A pesquisa destaca que os prazos para agendamento e consultas médicas são mal avaliados pelos pacientes, recebendo uma média de 4,8 em uma escala de zero a dez.
Para 54% dos entrevistados, o tempo de espera para consulta com oftalmologistas, essenciais para o diagnóstico de complicações visuais, ultrapassa três meses. A quantidade de médicos disponíveis (nota 5,6) e o acesso a resultados de exames (nota 5,5) também foram classificados como insuficientes.
Populações mais vulneráveis sofrem os maiores impactos
Os dados mostram que as populações mais vulneráveis são as mais prejudicadas. Entre as classes D/E e pessoas que se identificam como pretas, a média de avaliação dos serviços é frequentemente inferior a cinco.
A coordenadora do Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade, Vanessa Pirolo, afirma que o cenário reflete desigualdades no acesso ao tratamento.
“Problemas graves são apontados, principalmente pela população mais pobre, como barreiras que dificultam o acesso ao tratamento da doença no Brasil. Precisamos de mais investimentos, profissionais qualificados e atenção do poder público nessas questões”, alerta.
Apesar das dificuldades, 77% dos pacientes contam com serviços gratuitos, sendo o Sistema Único de Saúde (SUS) responsável por 72% desse atendimento.
Entre os que não têm plano de saúde, o tempo de espera é ainda mais crítico, recebendo nota média de 4,3. Em contrapartida, pacientes com convênio deram uma nota média de 6,3 para o atraso. Já entre os pacientes com diabetes tipo 1, que demandam um acompanhamento mais especializado, a taxa de insatisfação com o tempo de espera é maior.
A adesão ao tratamento também enfrenta obstáculos. Segundo Vanessa, o baixo número de especialistas disponíveis limita o atendimento tanto de diabetes quanto de condições associadas, como hipertensão e colesterol alto.
Para o professor Caio Regatieri, do Departamento de Oftalmologia da Unifesp, é essencial que o acompanhamento oftalmológico seja regular. “O diagnóstico precoce da retinopatia diabética é essencial para que pacientes com diabetes possam receber tratamento de forma oportuna, preservando a visão e evitando complicações irreversíveis”, explica.
Vacinação entre os que têm diabetes
Outro desafio destacado pela pesquisa é a baixa adesão às vacinas entre pessoas com diabetes. Apesar de a maioria (93%) utilizar vacinas gratuitas pelo SUS, apenas 11% já se vacinaram nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs), destinados a grupos de risco.
“Isso só mostra a necessidade de campanhas informativas a respeito dos riscos que pacientes diabéticos têm em desenvolver formas graves de doenças evitáveis pela vacinação, bem como dos benefícios da imunização”, ressalta o pediatra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
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A pesquisa teve apoio da AstraZeneca, Bayer, Boehringher, Genom, GSK, Medtronic, NovoNordisk, Roche e Servier e foi realizada entre 1º de julho e 22 de agosto de 2024, com uma amostra de 1.843 pessoas com diagnóstico de diabetes e margem de erro de 2 pontos percentuais.