Webinário aborda conceitos de educação financeira e riscos das bets na escola
“Plataforma nova!”, “O tigrinho que tá pagando!”, “Aposte no seu time do coração!”. Certamente você já ouviu alguma dessas frases nas redes sociais. Os jogos de apostas, também conhecidos como bets, estão se alastrando pelo país e atraindo um número cada vez maior de de adolescentes que se tornam vítimas dos ganhos falsos.
O assunto também está na sala de aula e foi um dos temas debatidos no webinário “Educação financeira na escola”, promovido pelo Porvir nesta quinta-feira, 3. Com apresentação do editor do Porvir, Vinicius de Oliveira, os professores convidados David Pires Dias, da USP (Universidade de São Paulo) e Cristiane Pessoa, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) reforçaram como o aprendizado de finanças ajuda a criar uma base que conscientize e evite esse tipo de endividamento.
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“Tem um monte de gente que é influenciador e faz propaganda de bets. A gente liga a TV para assistir a um jogo de futebol e tem bet em todas as camisas. É uma coisa que foi empurrada”, afirmou David, que é mestre e doutor em matemática e professor do IME-USP (Instituto de Matemática e Estatística da USP).
Mesmo com a conscientização a respeito do vício em apostas, a compulsão leva a uma perda de controle, com consequências negativas para a vida pessoal, social e financeira do indivíduo.
Olhar crítico sobre a educação financeira
“Educação financeira é um convite a ações e diálogos críticos acerca do contexto social financeiro e econômico dos indivíduos. Visando a melhoria da qualidade de vida das pessoas e da sociedade que elas vivem, possibilitando tomadas de decisão consciente e pautas em aspectos econômicos, financeiros, sociais, culturais e comportamentais”, contou o professor, em referência aos pesquisadores Andrei Luís Berres Hartmann e Marcus Vinicius Maltempi, dedicados à investigação da educação financeira e suas relações com a matemática.
David trabalha com a educação financeira do ponto de vista da matemática crítica. Ele contou que está sempre preocupado em olhar com um foco crítico para as situações com as quais se depara em sala de aula, encarando reflexões e ações não apenas de maneira financeira, mas também do ponto de vista social.
A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) inclui a educação financeira como um tema transversal, que deve ser abordado em todas as escolas. Além disso, a OCDE (Organização para o Desenvolvimento Econômico) recomenda que o ensino de finanças comece cedo, preferencialmente no ambiente escolar. “É preciso iniciá-lo desde que [a criança] entra na escola”, sugere o professor.
De fato, os estudantes vêm demonstrando, desde cedo, interesse sobre o assunto. O MEC (Ministério da Educação) ouviu em maio deste ano mais de 2 milhões de alunos do ensino fundamental, que destacaram a educação financeira como um dos temas que mais contribui para o seu crescimento pessoal. A ação fez parte da Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, iniciativa que busca conhecer mais a fundo estudantes nos anos finais do ensino fundamental.
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Os resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) sobre letramento financeiro, divulgados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em junho deste ano, revelaram que 46,7% dos estudantes brasileiros não possuem conhecimentos básicos em finanças. O Brasil ficou em 18º lugar no ranking global em uma lista de 20 países.
Não é só a defasagem em matemática que justifica o baixo desempenho. Cristiane Pessoa, doutora em Educação pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), professora e pesquisadora do Edumatec (Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica), destacou que há outros fatores que influenciam decisões erradas envolvendo finanças, como aspectos emocionais, culturais, e de necessidades, básicas ou não.
Cristiane, que também é líder do Gredam (Grupo de Estudos em Desenvolvimento e Aprendizagem da Matemática na Educação Básica), cita que o Pisa inclui questões que vão além da matemática. “A educação financeira é muito mais do que lidar com dinheiro, é muito mais do que lidar com a matemática. A educação financeira se relaciona com aspectos da vida”, afirmou a docente. Além disso, também é necessário o conhecimento sobre questões culturais, sociais, políticas e filosóficas.
Para ela, falar sobre dinheiro mexe com aspectos sensíveis da sociedade. Por isso, é preciso reforçar a reflexão sobre os impactos do capitalismo sobre a vida das pessoas, além da influência que as mídias sociais e propagandas exercem sobre o consumo.
Como aprofundar o conhecimento sobre educação financeira?
Antes de escolher a plataforma ou o lugar para aprender sobre o assunto, é necessário conhecer o viés da instituição que divulga o conhecimento na área, comentou David. Ambos os especialistas também recomendam que os professores busquem ler mais pesquisas científicas, além de revistas de educação financeira e matemática.
Cristiane também compartilhou um link com diversos artigos, teses e dissertações para apoiar os estudos sobre o tema, disponíveis nesse link.
Recentemente, o Porvir fez uma curadoria de Cursos e materiais sobre educação financeira para professores, com links de conteúdos voltados para diferentes etapas do ensino. Não deixe de conferir.